«“Não há melhor maneira de conhecer o mundo que viver as suas tradições”. Cada viajante persegue os seus motivos: Cadilhe queria descobrir as 12 ondas mais perfeitas; o havaiano Laird Hamilton tem a obsessão de surfar as maiores ondas do planeta; há quem cace etnias exóticas com a câmara; “há viajantes que põem especial ênfase em conhecer as melhores praias de cada ilha, outros especializam-se nos parques nacionais, outros aspiram a «provar» uma mulher (ou um homem) em cada país. A mim atraem-me especialmente as ruínas arqueológicas e os mosteiros”, escreveu Jorge Sánchez.
Os meus projectos levaram-me cada vez mais alto e mais longe, e tornaram-se sucessivamente mais complexos e dispendiosos, até ao ponto em que deixei de ter capacidade para os suportar sózinho… Uma alternativa possível é enquadrar este tipo de projectos num objectivo potencialmente útil para a sociedade.
A minha primeira aproximação a este tipo de intervenção deu-se em 1998, com o projecto da ‘Expedição Lisboa-Calecut-Lisboa’, coordenada pelo Carlos Albano, o Tó Zé e o Rui Goulão, da ‘Associação dos Amantes de África e da Aventura’, de Portimão. Visava comemorar os 500 anos da viagem marítima de Vasco da Gama, realizando a versão em 4 viaturas menos sofisticadas (R4L) a simbolizar 4 caravelas comandadas pelo grande navegador português. O objectivo desta viagem, para além da aventura em si, era o de enaltecer o espírito dos antigos exploradores lusos e difundir a cultura portuguesa (tal como o do meu livro anterior). Infelizmente o apoio da Comissão dos Descobrimentos ‘falhou’ à última hora, devido a mudanças na Direcção ….
Anteriormente, eu tinha estado envolvido noutras iniciativas com carácter de beneficência, que não ligadas com as viagens de exploração: como a Eco Bike (Cascais, Dez.95) da revista Bike Magazine (artigo no Nº 11, de 1996), com o objectivo de contribuir para a limpeza das zonas utilizadas por ciclistas - montados em bicicletas, o meu amigo Cristóvão e eu, em apenas uma hora, recolhemos mais de 20 kg de lixo ao longo da estrada costeira entre Cascais e Guincho, contribuindo para um total de mais de 440 kg recolhidos por um grupo de 15 ciclistas voluntários, só naquela manhã. Pontualmente, colaborei com: o programa internacional Coast Watch, coordenado em Portugal, na altura, pelo grupo GEOTA, para a identificação do tipo de lixo existente nas praias portuguesas; a tripulação do navio ‘Artic Sunrise’ da organização ambientalista Greenpeace, numa sua curta passagem pelo porto de Lisboa; e com o Banco Alimentar, nalgumas das suas acções de recolha de alimentos…»
Este é um excerto de ‘Os Novos Exploradores e a Aventura dos Sentidos’, o meu próximo livro (sobre cuja publicação darei noticia em breve), que contém uma mensagem explícita de alerta para a importante questão da Sustentabilidade e Conservação.
Em 2008, o glaciar Chacaltaya, na Bolívia, desapareceu definitivamente (ainda que tal tenha sido previsto 10 anos antes). Com ele, encerrou a respectiva pista de ski. Calcula-se em 380 milhões o número de esquiadores no mundo (180 deles, nos Alpes). Esta semana, esquiadoras de topo, incluindo as medalhadas olímpicas Maria Riesch e Tina Maze, associaram-se ao projecto ambiental dos chocolates Milka para promover uma atitude mais consciente e consequente da população em geral, no que toca ao respeito pela natureza e à deposição do lixo em locais apropriados. Em Portugal, talvez apenas a intervenção dos futebolistas mais idolatrados, e de algum eventual ídolo no campo da pesca (se é que existe), para lograr chegar à consciência daqueles que irreflectidamente atiram qualquer coisa pela janela do automóvel, e daqueles que só não deixam a cabeça nas margens dos rios e nas zonas costeiras…
(Fotos: baleias em Puerto Madryn, patagónia argentina)
trata do Livro 'Os novos exploradores lusos', suas sequelas, e outras crónicas de viagens...
sábado, 27 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Novas
Está pronto pronto a publicar o livro 'Os novos exploradores e a aventura dos sentidos' (http://www.bubok.pt/libros/3592/Os-novos-exploradores-e-a-aventura-dos-sentidos). Estão em fase avançada 'As manias de Paula e as maiores tolices do mundo' e 'Ensaio sobre a solidão'.
‘Aventura ao Máximo – os novos exploradores lusos’ esteve em 7º lugar dos mais vendidos das Publicações Europa-América (a Bulhosa deixou de trabalhar com esta editora, tal como a Bertrand, mas o livro continua disponível na Fnac e pode ser encomendado directamente à editora EA).
Alguns equipamentos desportivos continuam em venda com preços ainda mais baratos:
- bicicleta todo-terreno Giant Escaper, 120€
- blusão de penas Jack Wolfskin (M, cor verde escuro), 55€
- kayak rodeo e surf Wave Sport ACE 5.1, 355€
- kayak águas bravas Prijon Invader, 340€ (ou troco por um mais pequeno)
- Walkie talkies Motorola, 15€
Contacto por mail zgiraldes@hotmail.com
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- Walkie talkies Motorola, 15€
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segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Périplo maltês
10 autocarros, 3 barcos, 1 táxi, 1 avião e 1 carro, foram os 16 meios/trajectos utilizados, para regressar a Granada em 36 horas, depois de chegar a Azure Window. Ufff! quase 12 horas em viagem, sem contar tempos de espera, em apenas dia e meio!
Saindo cedo de Valletta, passando pela desolada ilha de Comino para mergulhar nas águas esmeralda da Blue Lagoon, que separa aquela do ilhote Cominotto, e continuando para a ilha de Gozo para alcançar o seu extremo ocidental (9 trajectos para ida e volta a Valletta em 12 horas), cheguei a Azure Window, a formação rochosa em arco, ex-libris e local edílico para mergulho scuba, com uma praia interior e fossas profundas.
Nesta ‘escapadinha’ de 4 dias conheci as 3 ilhas de Malta. Na ilha principal, Malta (cerca de 40km de comprimento por 8 de largura), percorri as ruas de Valletta (cidade fundada em 1566 pelo Grã Mestre e cavaleiro francês Jean Parisot de La Valette), como a Triq (rua) Reppublika que atravessa longitudinalmente a capital deixando transparecer resquícios do glamour de outros tempos. Valleta é um dos 3 sítios património da humanidade da UNESCO em Malta, além dos templos megalíticos de Mgarr e do Hypogeum Hal Saftieni (este, sem entrar porque sujeito a reserva com meses de antecedência). Percorri ainda as Três Cidades (Senglea, Vittoriosa e Copiscua), nas três penínsulas perpendiculares a Valletta (em Vittoriosa estão assinaladas as casas, ‘auberge’, por onde passaram os cruzados de Castela e Portugal, e os italianos, da ordem de St. John); o ponto mais alto da ilha, nas falésias da costa sul, em Dingli (Ta’Dmejrek a 253metros); os templos pré-históricos de Mnajdra e a espectacular Blue Grotto; e as praias de Gnejna e Golden Bay na costa oeste. A ilha de Comino (a mais pequena) tem um único hotel, uma torre de vigia ou fortificação e uma capela, mas o único motivo real de interesse é a lagoa e suas covas, para o snorkeling. Gozo cruza-se por completo em 30 minutos (uns 20km), com transbordo para um segundo autocarro em Victoria, onde vale a pena visitar a cidadela. O objectivo é a ‘janela’ Azure, o ponto mais distante do aeroporto de Malta. Antes da descida para a praia vale a pena uma fotografia ao santuário Ta’Pinu.
Como curiosidades, assinale-se que Malta praticamente não se ressentiu da crise (tem um desemprego residual de 4%); que não há pobreza e que os condutores de autocarro recebem cerca de 25.000 euros/ano; que, com 400.000 habitantes, tem a maior densidade populacional dentro da UE (1.282hab/km2); que é dos lugares mais seguros do mundo (taxas de crime menosprezáveis); que, além de ingleses, tornou-se um destino barato para jovens turistas espanhóis ávidos de ‘movida’; que o tráfico é bastante intenso; que fora da área de Valletta consegue-se encontrar sossego; que se vê bastante ‘sujidade’ e é comum atirar beatas e garrafas de plástico para o chão; que a sinalização (nomes de cidades) é bastante má; que o idioma estranhíssimo deste caldo de culturas tem origem fenícia e influência italiana, mas que toda a população fala inglês; que os horários são completamente inesperados (alguns templos abrem apenas das 9-11h da manhã e muitas lojas e pontos turísticos dão-se ao luxo de não abrir de tarde).
Fotos: Azure Window em Gozo, Blue Lagoon em Comino, Valletta e Blue Grotto em Malta
Saindo cedo de Valletta, passando pela desolada ilha de Comino para mergulhar nas águas esmeralda da Blue Lagoon, que separa aquela do ilhote Cominotto, e continuando para a ilha de Gozo para alcançar o seu extremo ocidental (9 trajectos para ida e volta a Valletta em 12 horas), cheguei a Azure Window, a formação rochosa em arco, ex-libris e local edílico para mergulho scuba, com uma praia interior e fossas profundas.
Nesta ‘escapadinha’ de 4 dias conheci as 3 ilhas de Malta. Na ilha principal, Malta (cerca de 40km de comprimento por 8 de largura), percorri as ruas de Valletta (cidade fundada em 1566 pelo Grã Mestre e cavaleiro francês Jean Parisot de La Valette), como a Triq (rua) Reppublika que atravessa longitudinalmente a capital deixando transparecer resquícios do glamour de outros tempos. Valleta é um dos 3 sítios património da humanidade da UNESCO em Malta, além dos templos megalíticos de Mgarr e do Hypogeum Hal Saftieni (este, sem entrar porque sujeito a reserva com meses de antecedência). Percorri ainda as Três Cidades (Senglea, Vittoriosa e Copiscua), nas três penínsulas perpendiculares a Valletta (em Vittoriosa estão assinaladas as casas, ‘auberge’, por onde passaram os cruzados de Castela e Portugal, e os italianos, da ordem de St. John); o ponto mais alto da ilha, nas falésias da costa sul, em Dingli (Ta’Dmejrek a 253metros); os templos pré-históricos de Mnajdra e a espectacular Blue Grotto; e as praias de Gnejna e Golden Bay na costa oeste. A ilha de Comino (a mais pequena) tem um único hotel, uma torre de vigia ou fortificação e uma capela, mas o único motivo real de interesse é a lagoa e suas covas, para o snorkeling. Gozo cruza-se por completo em 30 minutos (uns 20km), com transbordo para um segundo autocarro em Victoria, onde vale a pena visitar a cidadela. O objectivo é a ‘janela’ Azure, o ponto mais distante do aeroporto de Malta. Antes da descida para a praia vale a pena uma fotografia ao santuário Ta’Pinu.
Como curiosidades, assinale-se que Malta praticamente não se ressentiu da crise (tem um desemprego residual de 4%); que não há pobreza e que os condutores de autocarro recebem cerca de 25.000 euros/ano; que, com 400.000 habitantes, tem a maior densidade populacional dentro da UE (1.282hab/km2); que é dos lugares mais seguros do mundo (taxas de crime menosprezáveis); que, além de ingleses, tornou-se um destino barato para jovens turistas espanhóis ávidos de ‘movida’; que o tráfico é bastante intenso; que fora da área de Valletta consegue-se encontrar sossego; que se vê bastante ‘sujidade’ e é comum atirar beatas e garrafas de plástico para o chão; que a sinalização (nomes de cidades) é bastante má; que o idioma estranhíssimo deste caldo de culturas tem origem fenícia e influência italiana, mas que toda a população fala inglês; que os horários são completamente inesperados (alguns templos abrem apenas das 9-11h da manhã e muitas lojas e pontos turísticos dão-se ao luxo de não abrir de tarde).
Fotos: Azure Window em Gozo, Blue Lagoon em Comino, Valletta e Blue Grotto em Malta
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quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Voltas ao Mundo
‘De Hong Kong à Austrália… via Dakar’ não foi um desses duros ralis pelos desertos africanos. Tratou-se sim da minha «viagem de 6 meses à volta do mundo, em barco, e das insólitas aventuras e impressões que este itinerário proporcionou ao navegar os oceanos para visitar alguns dos mais belos locais do planeta…». Esta volta ao Mundo teve pouco da verdadeira aventura de outras, mas não teve menos de beleza e de factos curiosos.
Esta crónica aborda vários tipos de Volta ao Mundo (algumas, desenvolvidas no próximo livro ‘Os novos exploradores e a aventura dos sentidos’), que reflectem, por sua vez, diferentes formas de viajar.
A primeira viagem de sempre à volta do Mundo foi realizada entre 1519-22, pelo português Fernão Magalhães (ainda que ele não tenha terminado a viagem). Em 1898, o americano Joshua Slocum concluiu a primeira viagem de circum-navegação do planeta, em solitário – tinha 51 anos. Aos 67, o velejador britânico Robin Knox-Johnson (o primeiro a circum-navegar a Terra em solitário e sem paragens), concretizou a sua terceira viagem de circum-navegação.
Se por mar se contam pela centena o número de solitários que deu a volta ao mundo (incluindo dois portugueses), por terra esse número é muito superior e as ‘formas’ muito mais variadas.
Jorge Sánchez, um velho conhecido de José Megre na ‘disputa’ dos mais viajados do mundo, efectuou sete voltas pelo mundo, 3 delas circundando o planeta, e escreveu mais de 15 livros sobre os seus périplos. Na sua lista dos ‘Top Travellers of the World’, o francês Brugiroux ocupava o 1º lugar (Megre o 8º, e o brasileiro Paulo Raymundo o 11º). Para o livro de recordes do Guiness, o ‘world’s most traveled man’, era um milionário californiano que pisou 250 territórios em 3 anos!!! Mas há quem lhe chame ‘coleccionador de carimbos’! André Brugiroux (Paris, 1937), somava o mesmo número de territórios visitados, mas ‘em qualidade’, acumulando quase 50 anos de vida ‘on the road’ - ele denomina alguns viajantes endinheirados de “je-mets-le-pied”, pela superficialidade das suas viagens.
Em 1999-2000, Filipe Palma viajou de avião ao redor do mundo, descendo em cada continente (excepto Antárctida) para percorrer longos trajectos em bicicleta (que somaram 10.000km). O cronista Gonçalo Cadilhe, evitava os aviões e utilizava sobretudo autocarros, boleias, ou caminhava a pé, na sua viagem de volta ao mundo de 2 anos, em 2002. O espanhol Sarto iniciou a sua viagem de volta ao mundo em 2008, tinha 25 anos. Fê-la por etapas, por dificuldades logísticas: percorreu a Ásia em jipe, a América do norte em moto, a do sul em bicicleta… Em 2009, o viajante Nuno Pedrosa concluiu a sua travessia de 3 anos em bicicleta pelas Américas, de norte para sul, percorrendo mais de 33.000km - praticamente a distância da circunferência da Terra nos trópicos, 36.784km. Em 1985, com 22 anos de idade Albert Amorós partiu de Barcelona (com a sua bicicleta e 60.000 pesetas no bolso) para uma viagem interior, ao redor do mundo: concluiu-a passados 8 anos. O alemão Heinz Stücke (outro da lista dos ‘Top Travellers’), acumula várias voltas ao mundo com a sua bicicleta, somando 40 anos em viagem.
Uma amiga espanhola, Violeta, actualizava a informação sobre o seu paradeiro, durante a sua volta ao mundo de 2009, com fotos no Facebook: escalava na Austrália, esquiava nos Andes, subia o vulcão Misti e percorria o Inka trail, no Peru, exibia paisagens dos Alpes, comia chocolates na Bélgica e fazia ‘não-sei-quê’ acolá… e enchia-nos de inveja!
A minha viagem de 2004, decorreu entre Hong Kong e Sidney mas… tomando o caminho mais longo! Passando o canal do Panamá ... Passei 11 estreitos e canais, cruzei o equador e todos os meridianos do globo, fintando tempestades tropicais e furacões, para visitar as mais belas ilhas e 50 territórios. Esquiar em Hiroshima, surfar no Hawai e em Durban, mergulhar com tubarões na Polinésia, nadar com raias em Gran Cayman, remar um kayuko nas ilhas de San Blás, fazer snorkling em Guam e Mauritius, saltar de pára-quedas sobre o deserto da Namíbia, subir o vulcão Etna na Sicília ou a emblemática Table Mountain de Capetown…, foram as mais excitantes aventuras em locais de sonho (artigo parcial em http://viagenseaventuras4.blogspot.com).
Esta crónica aborda vários tipos de Volta ao Mundo (algumas, desenvolvidas no próximo livro ‘Os novos exploradores e a aventura dos sentidos’), que reflectem, por sua vez, diferentes formas de viajar.
A primeira viagem de sempre à volta do Mundo foi realizada entre 1519-22, pelo português Fernão Magalhães (ainda que ele não tenha terminado a viagem). Em 1898, o americano Joshua Slocum concluiu a primeira viagem de circum-navegação do planeta, em solitário – tinha 51 anos. Aos 67, o velejador britânico Robin Knox-Johnson (o primeiro a circum-navegar a Terra em solitário e sem paragens), concretizou a sua terceira viagem de circum-navegação.
Se por mar se contam pela centena o número de solitários que deu a volta ao mundo (incluindo dois portugueses), por terra esse número é muito superior e as ‘formas’ muito mais variadas.
Jorge Sánchez, um velho conhecido de José Megre na ‘disputa’ dos mais viajados do mundo, efectuou sete voltas pelo mundo, 3 delas circundando o planeta, e escreveu mais de 15 livros sobre os seus périplos. Na sua lista dos ‘Top Travellers of the World’, o francês Brugiroux ocupava o 1º lugar (Megre o 8º, e o brasileiro Paulo Raymundo o 11º). Para o livro de recordes do Guiness, o ‘world’s most traveled man’, era um milionário californiano que pisou 250 territórios em 3 anos!!! Mas há quem lhe chame ‘coleccionador de carimbos’! André Brugiroux (Paris, 1937), somava o mesmo número de territórios visitados, mas ‘em qualidade’, acumulando quase 50 anos de vida ‘on the road’ - ele denomina alguns viajantes endinheirados de “je-mets-le-pied”, pela superficialidade das suas viagens.
Em 1999-2000, Filipe Palma viajou de avião ao redor do mundo, descendo em cada continente (excepto Antárctida) para percorrer longos trajectos em bicicleta (que somaram 10.000km). O cronista Gonçalo Cadilhe, evitava os aviões e utilizava sobretudo autocarros, boleias, ou caminhava a pé, na sua viagem de volta ao mundo de 2 anos, em 2002. O espanhol Sarto iniciou a sua viagem de volta ao mundo em 2008, tinha 25 anos. Fê-la por etapas, por dificuldades logísticas: percorreu a Ásia em jipe, a América do norte em moto, a do sul em bicicleta… Em 2009, o viajante Nuno Pedrosa concluiu a sua travessia de 3 anos em bicicleta pelas Américas, de norte para sul, percorrendo mais de 33.000km - praticamente a distância da circunferência da Terra nos trópicos, 36.784km. Em 1985, com 22 anos de idade Albert Amorós partiu de Barcelona (com a sua bicicleta e 60.000 pesetas no bolso) para uma viagem interior, ao redor do mundo: concluiu-a passados 8 anos. O alemão Heinz Stücke (outro da lista dos ‘Top Travellers’), acumula várias voltas ao mundo com a sua bicicleta, somando 40 anos em viagem.
Uma amiga espanhola, Violeta, actualizava a informação sobre o seu paradeiro, durante a sua volta ao mundo de 2009, com fotos no Facebook: escalava na Austrália, esquiava nos Andes, subia o vulcão Misti e percorria o Inka trail, no Peru, exibia paisagens dos Alpes, comia chocolates na Bélgica e fazia ‘não-sei-quê’ acolá… e enchia-nos de inveja!
A minha viagem de 2004, decorreu entre Hong Kong e Sidney mas… tomando o caminho mais longo! Passando o canal do Panamá ... Passei 11 estreitos e canais, cruzei o equador e todos os meridianos do globo, fintando tempestades tropicais e furacões, para visitar as mais belas ilhas e 50 territórios. Esquiar em Hiroshima, surfar no Hawai e em Durban, mergulhar com tubarões na Polinésia, nadar com raias em Gran Cayman, remar um kayuko nas ilhas de San Blás, fazer snorkling em Guam e Mauritius, saltar de pára-quedas sobre o deserto da Namíbia, subir o vulcão Etna na Sicília ou a emblemática Table Mountain de Capetown…, foram as mais excitantes aventuras em locais de sonho (artigo parcial em http://viagenseaventuras4.blogspot.com).
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Novos livros a caminho…
Está terminado o livro ‘Os novos Exploradores e a Aventura dos sentidos’. Nele apresento novas histórias de exploração, fazendo a ligação entre as viagens e o sentimento de aventura e propondo diferentes abordagens da temática (‘desporto de intervenção’, ‘polémicas históricas’, ‘exploração dos sentidos’…): uma visão mais filosófica das viagens de exploração, com a sua vertente ecológica, motivacional e sentimental, e com alguns exemplos da ‘arte da natureza’. No fundo, procuro uma vista de olhos fresca sobre o nosso assombroso planeta e apelo à consciência de que: "A natureza não é um jogo. É um dom"!
O seguinte projecto de livro pretende cobrir uma nova experiência baseada numa futura travessia - a que se poderia tornar na ‘viagem da minha vida’ e que, "caso a consiga levar a cabo e concluir, espero que me deixe mais tranquilo para o resto da minha existência…". A primeira parte deste ‘Ensaio sobre a solidão’ (o provável título) foi escrita durante a fase da minha recuperação pós-acidente (pré-operação e reabilitação). A segunda, está reservada para o decorrer da própria ‘viagem’. A monotonia, a disciplina, momentos zen, a solidão, os medos, o silêncio, a acídia… são alguns dos temas explorados, os quais complemento com resumos de pesquisa histórica, literária e cientifica pertinente.
O seguinte projecto de livro pretende cobrir uma nova experiência baseada numa futura travessia - a que se poderia tornar na ‘viagem da minha vida’ e que, "caso a consiga levar a cabo e concluir, espero que me deixe mais tranquilo para o resto da minha existência…". A primeira parte deste ‘Ensaio sobre a solidão’ (o provável título) foi escrita durante a fase da minha recuperação pós-acidente (pré-operação e reabilitação). A segunda, está reservada para o decorrer da própria ‘viagem’. A monotonia, a disciplina, momentos zen, a solidão, os medos, o silêncio, a acídia… são alguns dos temas explorados, os quais complemento com resumos de pesquisa histórica, literária e cientifica pertinente.
Foto: rio Tejo em kayak – passado que influencia o futuro
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Horizonte Branco II
(continuaçao...)
«Outras histórias do Denali dizem que foi avistado um esquilo a 3.900 metros de altitude, numa passagem rochosa pela qual estávamos a progredir, e que ficou conhecida como ‘squirel point’ (ponto do esquilo). A mais extraordinária, no entanto, fala de um urso que foi avistado no Tahiltna Pass, a subir na direcção do campo 4. Depois, … desapareceu !!! Crê-se que terá caído numa crevasse, das muitas que abundam por alí.
Um passo depois do outro. É preciso continuar. Lembro-me de uma conversa com um colega de trabalho, um psicólogo com quem fazia equipa, enquanto consultor na Egor: este preguntou-me em que pensavam os atletas enquanto corriam a maratona. Imagino que a sua mente divaga entre recordações e pensamentos positivos, alternando com pensamentos e palavras de auto-motivação para seguir o seu objectivo. Talvez seja diferente com os profissionais. Talvez estes consigam manter-se focados no seu objectivo durante todo o tempo, ignorando as dores e dificuldades !? Mas penso que não. Fá-lo-ão por mais tempo, mas não todo o tempo, e utilizarão estratégias para manter a sua mente ocupada, alternadamente entre o objectivo e alguma coisa positiva. Esta é, pelo menos, a minha experiência pessoal, mas eu não sou profissional, nem tenho acompanhamento de peritos …
Continuo. Um, dois, um, … De súbito, quase a chegar ao Windy Corner, parece que cheiro carne grelhada !?! Ahh! “Não pode ser!”, concluí, depois de levantar repentinamente a cabeça. Estava claro que tinha sido traído pelos meus sentidos, e nem tentei localizar a fonte de tal ilusão odorifera. E muito menos procurei tentar encontrar uma resposta para tal fenómeno, provávelmente do foro do subconsciente, para não dizer paranormal. O melhor mesmo era sair daquela zona perigosa do cérebro, pois carne grelhada era algo que certamente não iria provar nas próximas duas semanas…»
«Outras histórias do Denali dizem que foi avistado um esquilo a 3.900 metros de altitude, numa passagem rochosa pela qual estávamos a progredir, e que ficou conhecida como ‘squirel point’ (ponto do esquilo). A mais extraordinária, no entanto, fala de um urso que foi avistado no Tahiltna Pass, a subir na direcção do campo 4. Depois, … desapareceu !!! Crê-se que terá caído numa crevasse, das muitas que abundam por alí.
Um passo depois do outro. É preciso continuar. Lembro-me de uma conversa com um colega de trabalho, um psicólogo com quem fazia equipa, enquanto consultor na Egor: este preguntou-me em que pensavam os atletas enquanto corriam a maratona. Imagino que a sua mente divaga entre recordações e pensamentos positivos, alternando com pensamentos e palavras de auto-motivação para seguir o seu objectivo. Talvez seja diferente com os profissionais. Talvez estes consigam manter-se focados no seu objectivo durante todo o tempo, ignorando as dores e dificuldades !? Mas penso que não. Fá-lo-ão por mais tempo, mas não todo o tempo, e utilizarão estratégias para manter a sua mente ocupada, alternadamente entre o objectivo e alguma coisa positiva. Esta é, pelo menos, a minha experiência pessoal, mas eu não sou profissional, nem tenho acompanhamento de peritos …
Continuo. Um, dois, um, … De súbito, quase a chegar ao Windy Corner, parece que cheiro carne grelhada !?! Ahh! “Não pode ser!”, concluí, depois de levantar repentinamente a cabeça. Estava claro que tinha sido traído pelos meus sentidos, e nem tentei localizar a fonte de tal ilusão odorifera. E muito menos procurei tentar encontrar uma resposta para tal fenómeno, provávelmente do foro do subconsciente, para não dizer paranormal. O melhor mesmo era sair daquela zona perigosa do cérebro, pois carne grelhada era algo que certamente não iria provar nas próximas duas semanas…»
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terça-feira, 4 de maio de 2010
Horizonte Branco ...
Passagens do meu diário de expedição no Alasca …
«Um passo atrás do outro, concentro-me na sequência e conto: “um, dois, um, dois …”. Continuo! Mas uma dôr distrae-me: o calcanhar esquerdo atrapalha-me, a canela direita também. Seguramente já tenho alguma bolha. Tenho que seguir, tento pensar noutras coisas... Dou a volta ao mundo em pensamentos: possibilidades profissionais, relações pessoais, recordações diversas de lugares e situações … Mas quando algum pensamento negativo emerge, tenho que procurar pousar a imaginação noutro galho. Até que, novamente, uma dôr me alerta: tenho os trapézios contracturados de carregar a mochila, agora já não com 20kg, mas com uns 8kg, mais o ‘pulka’, agora já não com 35kg, mas com 20. Apetece parar e mudar de posição. Mas depois, custará a arrancar! É preciso continuar! Um passo depois do outro. Um passo depois do outro. Senti-me mais pesado naquela subida da ‘motociclete’, mas fui conseguindo manter, junto com a cordada, um bom ritmo. No final daquela primeira subida do dia acabámos por demorar menos tempo do que no dia anterior…
Um passo depois do outro. Esta subida torna-se interminável…! Mas afinal não passou assim tanto tempo! É o esforço físico que custa mais e parece que faz o tempo passar devagar. Mas como é que outras cordadas passam por nós constantemente? Bom, eles parecem subir mais ligeiros! Um olhar de esguelha às suas mochilas e trenós, revela que, normalmente, carregam menos peso. Estaremos nós a cometer o erro de transportar muito de uma só vez, para ganhar tempo? É necessário continuar a dar passos. Aproximamo-nos do Windy Corner. O peso da mochila faz-se sentir e a força da gravidade puxa o trenó para baixo, e a mim para trás. Preciso de abstrair-me destes incómodos. O ranger dos bastões e dos crampons a cravar na neve dura retêm a minha atenção por momentos: imagino gemidos de pessoas ou o chilrear de pássaros. Não! Nada disso! Sigo ali, naquele ambiente gelado e inóspito do glaciar Kahiltna, frequentado apenas por corvos, que desenterram a comida dos depósitos, e outros pássaros mais pequenos, que se aproximam dos acampamentos. Na travessia para o campo 2, em que fomos colhidos por uma tempestade de neve e vento, um desses passaritos veio pousar na mochila do David e dali veio para a minha bota e, como lhe estendesse a mão, fugiu a refugiar-se no meu trenó, ali permanecendo algum tempo. O pobre, estava cansado, mas o vento sul, de frente, dificultava-lhe o vôo para altitudes mais baixas (…)». (continua)
Nota: ‘motociclete’ é a Motorcycle Hill, entre os campos 3 e 4
«Um passo atrás do outro, concentro-me na sequência e conto: “um, dois, um, dois …”. Continuo! Mas uma dôr distrae-me: o calcanhar esquerdo atrapalha-me, a canela direita também. Seguramente já tenho alguma bolha. Tenho que seguir, tento pensar noutras coisas... Dou a volta ao mundo em pensamentos: possibilidades profissionais, relações pessoais, recordações diversas de lugares e situações … Mas quando algum pensamento negativo emerge, tenho que procurar pousar a imaginação noutro galho. Até que, novamente, uma dôr me alerta: tenho os trapézios contracturados de carregar a mochila, agora já não com 20kg, mas com uns 8kg, mais o ‘pulka’, agora já não com 35kg, mas com 20. Apetece parar e mudar de posição. Mas depois, custará a arrancar! É preciso continuar! Um passo depois do outro. Um passo depois do outro. Senti-me mais pesado naquela subida da ‘motociclete’, mas fui conseguindo manter, junto com a cordada, um bom ritmo. No final daquela primeira subida do dia acabámos por demorar menos tempo do que no dia anterior…
Um passo depois do outro. Esta subida torna-se interminável…! Mas afinal não passou assim tanto tempo! É o esforço físico que custa mais e parece que faz o tempo passar devagar. Mas como é que outras cordadas passam por nós constantemente? Bom, eles parecem subir mais ligeiros! Um olhar de esguelha às suas mochilas e trenós, revela que, normalmente, carregam menos peso. Estaremos nós a cometer o erro de transportar muito de uma só vez, para ganhar tempo? É necessário continuar a dar passos. Aproximamo-nos do Windy Corner. O peso da mochila faz-se sentir e a força da gravidade puxa o trenó para baixo, e a mim para trás. Preciso de abstrair-me destes incómodos. O ranger dos bastões e dos crampons a cravar na neve dura retêm a minha atenção por momentos: imagino gemidos de pessoas ou o chilrear de pássaros. Não! Nada disso! Sigo ali, naquele ambiente gelado e inóspito do glaciar Kahiltna, frequentado apenas por corvos, que desenterram a comida dos depósitos, e outros pássaros mais pequenos, que se aproximam dos acampamentos. Na travessia para o campo 2, em que fomos colhidos por uma tempestade de neve e vento, um desses passaritos veio pousar na mochila do David e dali veio para a minha bota e, como lhe estendesse a mão, fugiu a refugiar-se no meu trenó, ali permanecendo algum tempo. O pobre, estava cansado, mas o vento sul, de frente, dificultava-lhe o vôo para altitudes mais baixas (…)». (continua)
Nota: ‘motociclete’ é a Motorcycle Hill, entre os campos 3 e 4
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sexta-feira, 30 de abril de 2010
Ambientes monótonos para escapar … da monotonía !?!
Num momento absolutamente monótono - estou ‘fechado’ em casa há mais de duas semanas, à espera de ser enviado para Sevilha para ser operado ao joelho (em consequência do acidente de ski), e entretenho-me a ver o cabelo crescer e a procurar clareiras na barriga para diáriamente lhe espetar a seringa de heparina, o anti-coagulante -, recordo uma travessia completamente solitária, envolta por um horizonte branco e infinito: foi no longo e monótono vale do glaciar Kahiltna, no Denali, onde vivi um dos meus momentos zen …
No meu novo livro (já concluido) falo duma investigação em que John Geiger, dando exemplos de sobreviventes em ambientes extremos, conclui que «o homem procura constantemente novos estímulos em novos ambientes para contornar a monotonia. É um facto que cada vez há mais pessoas a participar em viagens de resistência, em ambientes extremos e invulgares. Exploradores polares, alpinistas, marinheiros solitários, aviadores e astronautas, são os frequentadores destas áreas (montanhas, selvas, desertos, campos de neve, oceano e espaço), onde o ambiente de estímulo externo permanece relativamente inalterado e homogéneo. Estas pessoas, normalmente, têm como caracteristica pessoal um maior grau de ‘abertura à experiência’, que se traduz numa maior “vontade de explorar, considerar e tolerar experiências, ideias e sensações novas e não familiares”. Mas, como notou Geiger, “o cérebro depende da estimulação contínua resultante do bombardeamento sensorial”. Ao permanecer exposto àquele tipo de ambientes difíceis, caracterizados por um baixo nível de estímulo, por isolamento e monotonia sensorial, o potêncial de acidentes resulta duplamente agravado. A conclusão do autor é interessante: “É um facto curioso que os exploradores se sintam impelidos para ambientes rigidamente monótonos num esforço para escapar da … monotonia.”
(next: apontamentos da expedição no Alaska …)
Fotos: glaciar Alasca
No meu novo livro (já concluido) falo duma investigação em que John Geiger, dando exemplos de sobreviventes em ambientes extremos, conclui que «o homem procura constantemente novos estímulos em novos ambientes para contornar a monotonia. É um facto que cada vez há mais pessoas a participar em viagens de resistência, em ambientes extremos e invulgares. Exploradores polares, alpinistas, marinheiros solitários, aviadores e astronautas, são os frequentadores destas áreas (montanhas, selvas, desertos, campos de neve, oceano e espaço), onde o ambiente de estímulo externo permanece relativamente inalterado e homogéneo. Estas pessoas, normalmente, têm como caracteristica pessoal um maior grau de ‘abertura à experiência’, que se traduz numa maior “vontade de explorar, considerar e tolerar experiências, ideias e sensações novas e não familiares”. Mas, como notou Geiger, “o cérebro depende da estimulação contínua resultante do bombardeamento sensorial”. Ao permanecer exposto àquele tipo de ambientes difíceis, caracterizados por um baixo nível de estímulo, por isolamento e monotonia sensorial, o potêncial de acidentes resulta duplamente agravado. A conclusão do autor é interessante: “É um facto curioso que os exploradores se sintam impelidos para ambientes rigidamente monótonos num esforço para escapar da … monotonia.”
(next: apontamentos da expedição no Alaska …)
Fotos: glaciar Alasca
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quarta-feira, 28 de abril de 2010
Fim do projecto Ice Care …
Em ‘Hora de responsabilidade …’ (post de 06.11.09) escrevi: «Nos dias conturbados em que vivemos, com os sucessivos escândalos económicos protagonizados pelos nossos politicos, vem a propósito um trecho do meu próximo livro. Não para apaziguar a revolta que sentimos, mas para mostrar que há muito que os desportistas estão num domínio muito superior ao dos politicos, no plano ético e moral (…): Philip Kerr explica como as pessoas terão desenvolvido uma atitude de resignação face aos escândalos sem fim, que se verificam no mundo da politica e dos negócios. Mas aceitar isso num desportista ou aventureiro, é outra coisa: “o desporto parece ser muito mais importante para as pessoas do que a politica, (…) cruza as fronteiras étnicas e partidárias. Ocupa um dominio superior, e torna-se muito mais decepcionante quando figuras do desporto revelam ser, afinal, como toda a gente”».
Vem isto a propósito do motivo do meu abandono do projecto Ice Care. Por vezes envolvemo-nos em iniciativas com pessoas que dissimulam os seus objectivos e se esquecem que a causa que ‘pretendem’ defender tem que ver com comportamentos e atitudes muito mais do que com o ego e proveitos pessoais, como a eficácia em realizar dinheiro, própria do estilo de gestão agressivo e irresponsável da época ‘pré-crise’.
Precisamente, o outro promotor da iniciativa, utilizando uma causa social nobre como fachada para obter proveitos pessoais, faltou à verdade desportiva divulgando dados incorrectos para obter “mais impacto” (nas suas palavras): os “15kg pendurados nas costas” (que não eram mais de 5kg) e as “12h por dia em cima de uma bicicleta” (que nunca chegou a tanto) na viagem Paris-Suiça; ou os 750 km que afirmava ir percorrer em bicicleta, quando na verdade eram 640, dos quais ele não percorreu os últimos 30 (fê-lo sentado num automóvel), e a sua recusa de caminhar um par de horas extra para chegar à lingua do glaciar Aletsch, cujo registo fora planeado, foram alguns deles…
Em carta aberta, agradecendo às pessoas e instituições envolvidas e lamentando a situação, tentei explicar o meu afastamento ...
«O acumular de motivos que me levam a pôr termo à colaboração neste projecto, fundamentalmente de ordem ética, graves a meu ver, vão da falta de verdade desportiva, às intenções de aproveitamento económico, por parte do promotor JM: (…) Não estive conforme com inúmeras outras atitudes, (…) como o permanente ‘esquecimento’ de me entregar parte do equipamento atribuido por marcas sponsor (inclusive na hora da partida para o Quénia); ou a referência (no site) a pessoas e entidades como ‘colaboradores’ do projecto, quando de facto nunca o foram (e das pessoas que o foram, todas com curricula muito valiosos, nenhuma voltou a participar!?!) … Realmente de lamentar foi a tentativa de se aferrar ao controle das várias áreas do projecto, a partir do momento em que conseguiu o primeiro apoio monetário; e a sua conduta com as questões de ordem económica, começando com a transferência do apoio monetário para a sua conta particular… Recordo ter-me dito que entrava neste projecto numa fase em que o seu empregador lhe devia e estava “mal de dinheiro”… Não sou contra essa forma de ganhar dinheiro, mas pretender fazer-se cobrar ‘por hora’ com o dinheiro dos patrocinios (mail no final) depois de apregoar públicamente o carácter ‘pro bono’ da inicitiva !?! e ainda vir fazer exigências para devolver o valor correspondente aos gastos com as viagens efectuadas !?! Recusei participar em tal esquema, pois o motivo pelo qual investi tantas horas na preparação dos programas prendia-se com a causa em si e com o desafio envolvido (nunca com compensações económicas).
O objectivo desta carta é simplesmente distanciar-me dos seus objectivos pessoais encobertos, e garantir que o meu nome não seja envolvido nas suas manipulações e polémicas de ordem económica, tão proliferas nos dias que correm». Escrevo desde há vários anos sobre desporto, natureza e ecologia, e não posso fazer o contrário daquilo que escrevo, ao contrário de outros que caem de pára-quedas ao ver uma oportunidade de negócio. Tire as suas conclusões … O projecto fica côxo e a sua credibilidade irremediavelmente comprometida.
Parece que gastei tempo, suor e dinheiro, a favor de uma pessoa de maus principios e com um ego maior do que a própria causa… mas sentir-me-ei compensado ao saber que aumentou o número de pessoas sensiveis à questão das alterações climáticas.
(Foto: glaciar Aletsch, tal como a moral, ‘na penumbra’)
Vem isto a propósito do motivo do meu abandono do projecto Ice Care. Por vezes envolvemo-nos em iniciativas com pessoas que dissimulam os seus objectivos e se esquecem que a causa que ‘pretendem’ defender tem que ver com comportamentos e atitudes muito mais do que com o ego e proveitos pessoais, como a eficácia em realizar dinheiro, própria do estilo de gestão agressivo e irresponsável da época ‘pré-crise’.
Precisamente, o outro promotor da iniciativa, utilizando uma causa social nobre como fachada para obter proveitos pessoais, faltou à verdade desportiva divulgando dados incorrectos para obter “mais impacto” (nas suas palavras): os “15kg pendurados nas costas” (que não eram mais de 5kg) e as “12h por dia em cima de uma bicicleta” (que nunca chegou a tanto) na viagem Paris-Suiça; ou os 750 km que afirmava ir percorrer em bicicleta, quando na verdade eram 640, dos quais ele não percorreu os últimos 30 (fê-lo sentado num automóvel), e a sua recusa de caminhar um par de horas extra para chegar à lingua do glaciar Aletsch, cujo registo fora planeado, foram alguns deles…
Em carta aberta, agradecendo às pessoas e instituições envolvidas e lamentando a situação, tentei explicar o meu afastamento ...
«O acumular de motivos que me levam a pôr termo à colaboração neste projecto, fundamentalmente de ordem ética, graves a meu ver, vão da falta de verdade desportiva, às intenções de aproveitamento económico, por parte do promotor JM: (…) Não estive conforme com inúmeras outras atitudes, (…) como o permanente ‘esquecimento’ de me entregar parte do equipamento atribuido por marcas sponsor (inclusive na hora da partida para o Quénia); ou a referência (no site) a pessoas e entidades como ‘colaboradores’ do projecto, quando de facto nunca o foram (e das pessoas que o foram, todas com curricula muito valiosos, nenhuma voltou a participar!?!) … Realmente de lamentar foi a tentativa de se aferrar ao controle das várias áreas do projecto, a partir do momento em que conseguiu o primeiro apoio monetário; e a sua conduta com as questões de ordem económica, começando com a transferência do apoio monetário para a sua conta particular… Recordo ter-me dito que entrava neste projecto numa fase em que o seu empregador lhe devia e estava “mal de dinheiro”… Não sou contra essa forma de ganhar dinheiro, mas pretender fazer-se cobrar ‘por hora’ com o dinheiro dos patrocinios (mail no final) depois de apregoar públicamente o carácter ‘pro bono’ da inicitiva !?! e ainda vir fazer exigências para devolver o valor correspondente aos gastos com as viagens efectuadas !?! Recusei participar em tal esquema, pois o motivo pelo qual investi tantas horas na preparação dos programas prendia-se com a causa em si e com o desafio envolvido (nunca com compensações económicas).
O objectivo desta carta é simplesmente distanciar-me dos seus objectivos pessoais encobertos, e garantir que o meu nome não seja envolvido nas suas manipulações e polémicas de ordem económica, tão proliferas nos dias que correm». Escrevo desde há vários anos sobre desporto, natureza e ecologia, e não posso fazer o contrário daquilo que escrevo, ao contrário de outros que caem de pára-quedas ao ver uma oportunidade de negócio. Tire as suas conclusões … O projecto fica côxo e a sua credibilidade irremediavelmente comprometida.
Parece que gastei tempo, suor e dinheiro, a favor de uma pessoa de maus principios e com um ego maior do que a própria causa… mas sentir-me-ei compensado ao saber que aumentou o número de pessoas sensiveis à questão das alterações climáticas.
(Foto: glaciar Aletsch, tal como a moral, ‘na penumbra’)
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segunda-feira, 26 de abril de 2010
Boa, João!
Em 2007 entrevistei o João para resumir a sua história no livro ‘Aventura ao Máximo’. Em ‘Os Novos Exploradores e a Aventura dos Sentidos’, volto a escrever sobre o João, actualizando informação, agora que ele está a caminho do cume do Annapurna…
«A maior referência do montanhismo em Portugal continua a ser o João Garcia, primeiro e único português a alcançar o cume do Everest (1999). Em 2010, no âmbito do seu projecto ‘À Conquista dos Cumes do Mundo’, ele concluiu a sua saga para ascender a todas as 14 montanhas de 8 mil metros, logrando o importante feito de colocar Portugal na história do montanhismo, além de elevar o seu nome na história do desporto nacional …
Dia 5 de Maio de 2008! Um helicóptero russo transportando uma equipa de 8 alpinistas (entre os quais o basco Juanito Oiarzabal) e 7 nepaleses, falhava a aterragem no glaciar do campo base. O MI17 ficou inoperacional, mas a tragédia foi evitada. A cena passou-se no Makalu enquanto o João, ignorando o incidente, fazia a sua aclimatação mais acima, transferindo material entre os campos 1 e 2. Tentava o seu décimo cume de 8 mil metros mas o extremo frio verificado no campo 3 levou alguns alpinistas a recuar. João mantêve-se firme e, no dia 19, solitário, alcançou o cume. Nesse dia, apenas outro montanhista (um francês) com o respectivo guia sherpa chegaram ao cume … Fernando, um granadino (da loja ‘Sherpa’), estava lá e teve que se retirar com o seu numeroso grupo - 5 deles receberam assistência hospitalar para tratar congelações nas mãos e pés.
Dois meses depois, no Broad Peak, a expedição do João foi marcada por uma queda de pedras que feriu um companheiro, o dinamarquês Mogens, e um iraniano, quando todos subiam ao campo I (…). No final, cansado, João disse: "… praticamente 24 horas de esforço ininterrupto, não conheço nenhum desporto que seja assim... O Broad Peak é bem mais perigoso e bem mais técnico do que muita gente faz crer” (…). João começava “a ver a luz ao fundo do tunel”, com a perspectiva de terminar este monstruoso projecto dos 14 cumes mais altos da Terra. Faltavam-lhe 3! No dia 28 de Abril de 2009, João alcançou o cume do Manaslu e, logo a 14 de Junho, iniciou o trekking de aproximação ao Nanga Parbat: chegou ao cume, com muito frio e gêlo, a 10 de Julho (então, essa montanha reclamou a vida de um austriaco e da sul-coreana ‘miss Go’, por esgotamento, quando tentava o seu 12º oito mil). ‘Só’ lhe faltava a ‘Deusa da Abundancia’ - o Annapurna! Curiosamente, a primeira das 14 montanhas gigantes, em que alguém pisou o cume. Conseguiu-o a 17 deste mês. São apenas 19 os montanhistas que pisaram os 14 cumes de 8 mil, mas o João foi o décimo a fazê-lo sem oxigénio. Tudo ‘limpo’ e à primeira …. Espectacular! Boa, João!
«A maior referência do montanhismo em Portugal continua a ser o João Garcia, primeiro e único português a alcançar o cume do Everest (1999). Em 2010, no âmbito do seu projecto ‘À Conquista dos Cumes do Mundo’, ele concluiu a sua saga para ascender a todas as 14 montanhas de 8 mil metros, logrando o importante feito de colocar Portugal na história do montanhismo, além de elevar o seu nome na história do desporto nacional …
Dia 5 de Maio de 2008! Um helicóptero russo transportando uma equipa de 8 alpinistas (entre os quais o basco Juanito Oiarzabal) e 7 nepaleses, falhava a aterragem no glaciar do campo base. O MI17 ficou inoperacional, mas a tragédia foi evitada. A cena passou-se no Makalu enquanto o João, ignorando o incidente, fazia a sua aclimatação mais acima, transferindo material entre os campos 1 e 2. Tentava o seu décimo cume de 8 mil metros mas o extremo frio verificado no campo 3 levou alguns alpinistas a recuar. João mantêve-se firme e, no dia 19, solitário, alcançou o cume. Nesse dia, apenas outro montanhista (um francês) com o respectivo guia sherpa chegaram ao cume … Fernando, um granadino (da loja ‘Sherpa’), estava lá e teve que se retirar com o seu numeroso grupo - 5 deles receberam assistência hospitalar para tratar congelações nas mãos e pés.
Dois meses depois, no Broad Peak, a expedição do João foi marcada por uma queda de pedras que feriu um companheiro, o dinamarquês Mogens, e um iraniano, quando todos subiam ao campo I (…). No final, cansado, João disse: "… praticamente 24 horas de esforço ininterrupto, não conheço nenhum desporto que seja assim... O Broad Peak é bem mais perigoso e bem mais técnico do que muita gente faz crer” (…). João começava “a ver a luz ao fundo do tunel”, com a perspectiva de terminar este monstruoso projecto dos 14 cumes mais altos da Terra. Faltavam-lhe 3! No dia 28 de Abril de 2009, João alcançou o cume do Manaslu e, logo a 14 de Junho, iniciou o trekking de aproximação ao Nanga Parbat: chegou ao cume, com muito frio e gêlo, a 10 de Julho (então, essa montanha reclamou a vida de um austriaco e da sul-coreana ‘miss Go’, por esgotamento, quando tentava o seu 12º oito mil). ‘Só’ lhe faltava a ‘Deusa da Abundancia’ - o Annapurna! Curiosamente, a primeira das 14 montanhas gigantes, em que alguém pisou o cume. Conseguiu-o a 17 deste mês. São apenas 19 os montanhistas que pisaram os 14 cumes de 8 mil, mas o João foi o décimo a fazê-lo sem oxigénio. Tudo ‘limpo’ e à primeira …. Espectacular! Boa, João!
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quarta-feira, 14 de abril de 2010
Pausa nas Aventuras ...
Estava já em preparativos para a travessia Piombino-Córsega (cerca de 90 km) em kayak, prevista para Junho, seguida de um trekking de uns 15 dias no GR20 da ilha gaulesa. Mas a 10 de Abril, a uma semana do final da temporada de ski em Sierra Nevada, tive uma queda numa pista de ski-cross e lixei o joelho direito por muito tempo... A fase de recuperação vai durar! Os treinos em ginásio e montanha e os programas de primavera-verão (travessia em kayak para a Córsega e trekking; ascenção ao Triglav na Eslovénia e, provávelmente, a expedição com esquis ao Cho Oyu, nos Himalaias, para Setembro) ficam para as calendas...
A propósito de um novo ensaio que comecei a escrever, tentei recordar os episódios que mais fortemente me ficaram gravados na retina e que me vêem de imediato à memória quando penso em experiências positivas. São outro tipo de aventuras, que pouco têm que ver com esforço físico …
Algumas, são referidas em ‘Os novos exploradores e a aventura dos sentidos’, a propósito de ‘Maravilhas do Mundo’, onde apresento 10 experiências pessoais que considerei interessantes e marcantes, ‘diferentes do habitual’, resultantes do contacto com a natureza e culturas de outros cantos da Terra: «Onde é que nos pode suceder ter uma bela loira a passear-nos numa bicicleta (literalmente – já que eu ia pendurado atrás) pelos caminhos de uma vila tipica ou, chegar dos 2 aos 2.000 metros de altitude em meia hora? Vivi-o em Alkmaar, Holanda (1990) e em Tenerife (2002), respectivamente… Poderia mencionar outros momentos, como os vividos com: a travessia da Europa central em moto (1990); a volta a conta-relógio à ilha de Ibiza (1991); a travessia da Floresta Negra em bicicleta ou a Oktoberfest de Munique (1993); as efusivas largadas de touros nas festas de San Fermin, em Pamplona (1995); o fim de ano nas dunas do Erg Chebi - deserto a sul de Marrocos (2001); a descida do vulcão Villarica, Chile, em tobogan (2003); a ascenção e pernoita no vulcão do Pico, depois da travessia em kayak desde a ilha do Faial, Açores (2003); o contacto com o povo Cuna nas ilhas de San Blás (Panamá), nadando e cirandando num kayuko entre as várias ilhotas (2004); ou a travessia das montanhas de Andorra a pé – cerca de 100 km (2008) …. Mas os mais especiais, pelo seu simbolismo, foram os que resultaram de: subida da mítica montanha Kilimanjaro, na Tanzania, seguida de emocionante safari nos parques de Ngorongoro e Serengueti (Dez.97); mergulho com raias nos baixíos ao largo da ilha Gran Cayman, Caraíbas (Abr.04); pôr-do-sol visto das esplanadas de Fira, no alto da falésia (parte do cone do antigo vulcão), na ilha de Santorini, Grécia (Mai.04); passeio nas ruelas e canais de Veneza – para perceber o dito popular “see Venice and die …” (Mai.04); a adrenalina do sky diving sobre a tranquilidade do ‘acolchoado’ de dunas do deserto da Namibia, em Swakopmund, e o sandboard na Duna 45, uma das mais altas do mundo (Set.04); subida da montanha Table Mountain (1.088m), para contemplar a Cidade do Cabo, o Cabo da Boa Esperança e o oceano, África do Sul (Set.04); mergulho (scuba) com tubarões (limão e white tip) e tartarugas verde, nas límpidas águas de Moorea – frondosa ilha de sonho, na Polinésia francesa (Ago.04); travessia dos Andes, a norte da Patagónia – subindo a vulcões, banhando-me em termas naturais e percorrendo a rota dos 7 lagos (Jan.05); observação de baleias, orcas e leões marinhos, junto aos glaciares de Seward, Alasca (EUA) – além de inesperados encontros com ursos negros, alces e raposas vermelhas, em Denali (Jun.08); jantar o típico fondue de queijo num chalet suiço de montanha, seguido de divertida descida de vários kms em trenó de neve (com pausas para beber ‘Glüwein’), na sombra dos cumes Eiger e Jungfrau (Jan.09).
(Fotos: 1= povo Cuna, ilhas San Blás; 2= raias, ilha G.Cayman; 3= Santorini, Grécia ; 4= Lago Escondido, Andes)
A propósito de um novo ensaio que comecei a escrever, tentei recordar os episódios que mais fortemente me ficaram gravados na retina e que me vêem de imediato à memória quando penso em experiências positivas. São outro tipo de aventuras, que pouco têm que ver com esforço físico …
Algumas, são referidas em ‘Os novos exploradores e a aventura dos sentidos’, a propósito de ‘Maravilhas do Mundo’, onde apresento 10 experiências pessoais que considerei interessantes e marcantes, ‘diferentes do habitual’, resultantes do contacto com a natureza e culturas de outros cantos da Terra: «Onde é que nos pode suceder ter uma bela loira a passear-nos numa bicicleta (literalmente – já que eu ia pendurado atrás) pelos caminhos de uma vila tipica ou, chegar dos 2 aos 2.000 metros de altitude em meia hora? Vivi-o em Alkmaar, Holanda (1990) e em Tenerife (2002), respectivamente… Poderia mencionar outros momentos, como os vividos com: a travessia da Europa central em moto (1990); a volta a conta-relógio à ilha de Ibiza (1991); a travessia da Floresta Negra em bicicleta ou a Oktoberfest de Munique (1993); as efusivas largadas de touros nas festas de San Fermin, em Pamplona (1995); o fim de ano nas dunas do Erg Chebi - deserto a sul de Marrocos (2001); a descida do vulcão Villarica, Chile, em tobogan (2003); a ascenção e pernoita no vulcão do Pico, depois da travessia em kayak desde a ilha do Faial, Açores (2003); o contacto com o povo Cuna nas ilhas de San Blás (Panamá), nadando e cirandando num kayuko entre as várias ilhotas (2004); ou a travessia das montanhas de Andorra a pé – cerca de 100 km (2008) …. Mas os mais especiais, pelo seu simbolismo, foram os que resultaram de: subida da mítica montanha Kilimanjaro, na Tanzania, seguida de emocionante safari nos parques de Ngorongoro e Serengueti (Dez.97); mergulho com raias nos baixíos ao largo da ilha Gran Cayman, Caraíbas (Abr.04); pôr-do-sol visto das esplanadas de Fira, no alto da falésia (parte do cone do antigo vulcão), na ilha de Santorini, Grécia (Mai.04); passeio nas ruelas e canais de Veneza – para perceber o dito popular “see Venice and die …” (Mai.04); a adrenalina do sky diving sobre a tranquilidade do ‘acolchoado’ de dunas do deserto da Namibia, em Swakopmund, e o sandboard na Duna 45, uma das mais altas do mundo (Set.04); subida da montanha Table Mountain (1.088m), para contemplar a Cidade do Cabo, o Cabo da Boa Esperança e o oceano, África do Sul (Set.04); mergulho (scuba) com tubarões (limão e white tip) e tartarugas verde, nas límpidas águas de Moorea – frondosa ilha de sonho, na Polinésia francesa (Ago.04); travessia dos Andes, a norte da Patagónia – subindo a vulcões, banhando-me em termas naturais e percorrendo a rota dos 7 lagos (Jan.05); observação de baleias, orcas e leões marinhos, junto aos glaciares de Seward, Alasca (EUA) – além de inesperados encontros com ursos negros, alces e raposas vermelhas, em Denali (Jun.08); jantar o típico fondue de queijo num chalet suiço de montanha, seguido de divertida descida de vários kms em trenó de neve (com pausas para beber ‘Glüwein’), na sombra dos cumes Eiger e Jungfrau (Jan.09).
(Fotos: 1= povo Cuna, ilhas San Blás; 2= raias, ilha G.Cayman; 3= Santorini, Grécia ; 4= Lago Escondido, Andes)
segunda-feira, 22 de março de 2010
Grandes Viajantes e Aventureiras
(continuaçao) ...
O século XX, brindou-nos com ínumeros exemplos de mulheres que relizaram arrojadas viagens em solitário, sem os “50 baús, a banheira às costas e toda a sua equipa de carregadores”, que valeram apelidos como “ridiculas”, às aristocratas inglesas do passado: em 1932, Amelia Eahart (EUA) foi a primeira mulher a realizar um vôo transatlântico a solo; em 1952, Ann Davison (GB) realizou a primeira travessia do Atlântico em veleiro a solo; em 1970, Maureen Wheeler, com 22 anos, e o seu noivo Tony (26) percorreram a Ásia a bordo de um velho Mini, com um punhado de dólares no bolso e “muito sentido de aventura” para celebrar a sua ‘Lua de Mel’ - da Turquia à Austrália, passando por Irão, Afeganistão, Paquistão, India e Nepal, popularizaram a ‘hippie trail’; em 1975, a japonesa Junko Tabei, foi a primeira mulher no cume do Everest, depois de ter sido soterrada por uma avalancha e salva por sherpas que localizaram o seu tornozelo e o puxaram para a vida (foi também a primeira mulher a conseguir alcançar o cume dos ‘Seven Summits’).
Na última década, assitimos a outros desafios extremos, no feminino: em 1993, a escaladora norte americana Lynn Hill foi a primeira pessoa a escalar o difícil penhasco “The Nose”, em Yosemite (em 1994, repetiu a façanha em menos de 24 horas); em 2005, a inglesa Ellen MacArthur, bateu o recorde da volta ao mundo mais rápida em veleiro, em solitário; em 2006, a inglesa Denise Caffari, realizou a primeira volta ao mundo em veleiro, em solitário e em contra-corrente; em 2007, a britânica Roz Savage, tornou-se na primeira mulher a tentar a travessía do Pacífico a remos (após ter atravessado o Atlântico em 2006, numa viagem de 103 dias, entre as Canárias e a ilha de Antigua); em 2009, 19 mulheres completaram a ascenção dos ‘Sete Cumes’; no final do mesmo ano, 5 outras tinham acumulado a chegada ao cume de pelo menos 11 das 14 montanhas de mais de 8 mil metros: a sul-coreana ‘miss Go’ (falecida por esgotamento no Nanga Parbat, ao tentar o seu 12º cume); a italiana Nives Meroi (que desistiu em 2008 da corrida aos 14 cumes, quando o seu marido adoeceu no Kangchenjunga); a espanhola Edurne Pasabán de 37 anos, que em 2010 tentará o Shisha Pangma e o Annapurna (até Maio) para se tornar na primeira mulher a cumprir todos os 14 oitomil; e a também coreana Oh Eun Sun, a quem apenas falta o Annapurna para alcançar a mesma marca.
Hoje, já ninguém se admira que uma mulher se lance à aventura em qualquer âmbito e que os seus êxitos sejam reconhecidos, mas ainda há mulheres que se aventuram com risco da própria vida, por causas humanitárias, de protecção de animais ou da saúde do planeta e cujos nomes mal se conhecem. O estatuto da mulher alterou-se completamente com o evoluir dos tempos. Ainda assim, os meios de comunicação destacam as mulheres aventureiras “desde o ponto de vista de que o logro conseguido tem mais mérito pela suposta fragilidade da mulher”. Cristina Morató (autora do livro ‘Viajeras intrépidas e aventureras’) corrobora afirmando que “ainda hoje continua a ser um mundo masculino, pelo que nos meios de comunicação não ocupamos o mesmo espaço que eles a não ser que sejas, além do mais, modelo e bonita como Araceli Segarra. Neste sentido avançámos pouco”. A espanhola Araceli é um caso mediático. Uma mulher multifacetada cujo perfil foi retratado da seguinte forma num número da ‘Vincci Magazine’: “Podia-se defini-la como escaladora, modelo, escritora, ilustradora ou conferencista, mas talvez a palavra ‘entusiasta’ seja a que melhor define o poliedro que as suas multiplas ocupações formam (…) Uma mulher que pode com qualquer desafio que se lhe ponha pela frente”. Antes de tudo Araceli é uma aventureira e se de algo se pode presumir é do seu amplo curriculum de montanhista. Aos 15 anos iniciou-se no mundo da espeleologia, aos 18 subiu acima dos 3.000 metros e aos 21 realizou a sua primeira expedição aos Himalaias. Na primavera de 1996 festejou os 26 anos no campo base da mítica Everest e, poucos dias depois, tornou-se na primeira espanhola a pisar o cume mais elevado da Terra. “As montanhas de cada um ensinam-te muitas coisas. Eu não quero subir as mais altas, mas sim as que são difíceis, aquelas que supõem um desafio para ti e implicam superação”, disse em entrevista. As outras facetas profissionais da sua vida enfrenta-as de modo idêntico: “No fundo é tudo o mesmo, mas com matizes diferentes, como as montanhas”. Araceli colabora com diversas revistas, participou em documentarios televisivos e no filme “Sete anos no Tibete”; realizou o best seller da National Geographic “Everest, mountain without mercy”. Nas suas conferências, utiliza a ‘montanha’ como metáfora de vida.
Em Portugal, alguns exemplos de viajantes e aventureiras foram destacados nos meus livros: as repórteres Maria Assunção Avillez e Ana Isabel Mineiro; a antropóloga Joana Roque de Pinho (viveu 2 anos com tribos Maasai, no Quénia); a montanhista Daniela Teixeira, 1ª portuguesa a 8 mil metros de altitude; a piloto Elisabete Jacinto, vencedora no rali Paris-Dakar; …
Fotos (1a, Lynn Hill; 2a, Elisabete Jacinto)
Livros: Carlos Pascual Gil “El viaje de Ejeria” (LAERTES, 1994); A. Arce “Itinerario de la Virgen Egeria (381-384)” (Editorial Biblioteca Autores Cristianos, 1996); Alexandra Lapierre/Christel Mouchard “ “Grandes Aventureiras 1850-1950”; Eric Le Nabour “As Grandes Aventureiras da História” (Javier Vergara Editor); Cristina Morató “Viajeras intrépidas y aventureras”, “As raínhas de África”, “As damas do Oriente” e “Cativa na Arábia” (Plaza & Janés SA); Robin Maxwell “Wild Irish”; José Tavares “Aventura ao Máximo – os novos exploradores lusos” (Europa-América, 2008) e “Os novos exploradores e a aventura dos sentidos”.
O século XX, brindou-nos com ínumeros exemplos de mulheres que relizaram arrojadas viagens em solitário, sem os “50 baús, a banheira às costas e toda a sua equipa de carregadores”, que valeram apelidos como “ridiculas”, às aristocratas inglesas do passado: em 1932, Amelia Eahart (EUA) foi a primeira mulher a realizar um vôo transatlântico a solo; em 1952, Ann Davison (GB) realizou a primeira travessia do Atlântico em veleiro a solo; em 1970, Maureen Wheeler, com 22 anos, e o seu noivo Tony (26) percorreram a Ásia a bordo de um velho Mini, com um punhado de dólares no bolso e “muito sentido de aventura” para celebrar a sua ‘Lua de Mel’ - da Turquia à Austrália, passando por Irão, Afeganistão, Paquistão, India e Nepal, popularizaram a ‘hippie trail’; em 1975, a japonesa Junko Tabei, foi a primeira mulher no cume do Everest, depois de ter sido soterrada por uma avalancha e salva por sherpas que localizaram o seu tornozelo e o puxaram para a vida (foi também a primeira mulher a conseguir alcançar o cume dos ‘Seven Summits’).
Na última década, assitimos a outros desafios extremos, no feminino: em 1993, a escaladora norte americana Lynn Hill foi a primeira pessoa a escalar o difícil penhasco “The Nose”, em Yosemite (em 1994, repetiu a façanha em menos de 24 horas); em 2005, a inglesa Ellen MacArthur, bateu o recorde da volta ao mundo mais rápida em veleiro, em solitário; em 2006, a inglesa Denise Caffari, realizou a primeira volta ao mundo em veleiro, em solitário e em contra-corrente; em 2007, a britânica Roz Savage, tornou-se na primeira mulher a tentar a travessía do Pacífico a remos (após ter atravessado o Atlântico em 2006, numa viagem de 103 dias, entre as Canárias e a ilha de Antigua); em 2009, 19 mulheres completaram a ascenção dos ‘Sete Cumes’; no final do mesmo ano, 5 outras tinham acumulado a chegada ao cume de pelo menos 11 das 14 montanhas de mais de 8 mil metros: a sul-coreana ‘miss Go’ (falecida por esgotamento no Nanga Parbat, ao tentar o seu 12º cume); a italiana Nives Meroi (que desistiu em 2008 da corrida aos 14 cumes, quando o seu marido adoeceu no Kangchenjunga); a espanhola Edurne Pasabán de 37 anos, que em 2010 tentará o Shisha Pangma e o Annapurna (até Maio) para se tornar na primeira mulher a cumprir todos os 14 oitomil; e a também coreana Oh Eun Sun, a quem apenas falta o Annapurna para alcançar a mesma marca.
Hoje, já ninguém se admira que uma mulher se lance à aventura em qualquer âmbito e que os seus êxitos sejam reconhecidos, mas ainda há mulheres que se aventuram com risco da própria vida, por causas humanitárias, de protecção de animais ou da saúde do planeta e cujos nomes mal se conhecem. O estatuto da mulher alterou-se completamente com o evoluir dos tempos. Ainda assim, os meios de comunicação destacam as mulheres aventureiras “desde o ponto de vista de que o logro conseguido tem mais mérito pela suposta fragilidade da mulher”. Cristina Morató (autora do livro ‘Viajeras intrépidas e aventureras’) corrobora afirmando que “ainda hoje continua a ser um mundo masculino, pelo que nos meios de comunicação não ocupamos o mesmo espaço que eles a não ser que sejas, além do mais, modelo e bonita como Araceli Segarra. Neste sentido avançámos pouco”. A espanhola Araceli é um caso mediático. Uma mulher multifacetada cujo perfil foi retratado da seguinte forma num número da ‘Vincci Magazine’: “Podia-se defini-la como escaladora, modelo, escritora, ilustradora ou conferencista, mas talvez a palavra ‘entusiasta’ seja a que melhor define o poliedro que as suas multiplas ocupações formam (…) Uma mulher que pode com qualquer desafio que se lhe ponha pela frente”. Antes de tudo Araceli é uma aventureira e se de algo se pode presumir é do seu amplo curriculum de montanhista. Aos 15 anos iniciou-se no mundo da espeleologia, aos 18 subiu acima dos 3.000 metros e aos 21 realizou a sua primeira expedição aos Himalaias. Na primavera de 1996 festejou os 26 anos no campo base da mítica Everest e, poucos dias depois, tornou-se na primeira espanhola a pisar o cume mais elevado da Terra. “As montanhas de cada um ensinam-te muitas coisas. Eu não quero subir as mais altas, mas sim as que são difíceis, aquelas que supõem um desafio para ti e implicam superação”, disse em entrevista. As outras facetas profissionais da sua vida enfrenta-as de modo idêntico: “No fundo é tudo o mesmo, mas com matizes diferentes, como as montanhas”. Araceli colabora com diversas revistas, participou em documentarios televisivos e no filme “Sete anos no Tibete”; realizou o best seller da National Geographic “Everest, mountain without mercy”. Nas suas conferências, utiliza a ‘montanha’ como metáfora de vida.
Em Portugal, alguns exemplos de viajantes e aventureiras foram destacados nos meus livros: as repórteres Maria Assunção Avillez e Ana Isabel Mineiro; a antropóloga Joana Roque de Pinho (viveu 2 anos com tribos Maasai, no Quénia); a montanhista Daniela Teixeira, 1ª portuguesa a 8 mil metros de altitude; a piloto Elisabete Jacinto, vencedora no rali Paris-Dakar; …
Fotos (1a, Lynn Hill; 2a, Elisabete Jacinto)
Livros: Carlos Pascual Gil “El viaje de Ejeria” (LAERTES, 1994); A. Arce “Itinerario de la Virgen Egeria (381-384)” (Editorial Biblioteca Autores Cristianos, 1996); Alexandra Lapierre/Christel Mouchard “ “Grandes Aventureiras 1850-1950”; Eric Le Nabour “As Grandes Aventureiras da História” (Javier Vergara Editor); Cristina Morató “Viajeras intrépidas y aventureras”, “As raínhas de África”, “As damas do Oriente” e “Cativa na Arábia” (Plaza & Janés SA); Robin Maxwell “Wild Irish”; José Tavares “Aventura ao Máximo – os novos exploradores lusos” (Europa-América, 2008) e “Os novos exploradores e a aventura dos sentidos”.
terça-feira, 16 de março de 2010
Mulheres Aventureiras I
Ella Maillart: “Apesar de tudo e antes que nada, a melhor maneira de desfazer-se de um desejo obsessivo, é realizá-lo!”
Se quisermos recuar no tempo para descubrir a primeira mulher viajante e aventureira, provávelmente deparamos com a história de freira Egeria. De origem galega, é considerada uma das ‘primeiras viajantes’. Viajou entre 381 e 384 por todo o Médio Oriente, seguindo as pisadas dos lugares bíblicos e contrariando as regras para chegar a Jerusalém, Egipto e Mesopotamia. Naqueles tempos viajar não era coisa de “todos os dias”: as dificuldades de transporte e o tempo requerido para percorrer aquelas distâncias, convertiam a actividade em algo para pessoas com espírito de viajante. O seu relato, dando conta de detalhes de lugares, pessoas, curiosidades e costumes, seria o primeiro livro espanhol de viagens: Itinerarium ad Loca Sancta. A primeira edição deste livro foi imprimida por Gamurrini em 1887 (a primeira tradução espanhola é de 1924, por Pascual Galindo Romero).
Nos vários livros que retratam mulheres viajantes, encontramos referências à curiosa história da audaz Freira Alferes, à travessia oceanica de Isabel Barreto ou às bravuras da pirata Grace O´Malley.
Uma justificação para o reduzido número de mulheres viajantes chegou-me num artigo de Anna T. Farran (in revista Introversion, de 15.11.09): “O sexo feminino teve que percorrer um longo caminho passando por cima de críticas e preconceitos sociais. A maioria delas, nem sequer passaram à história porque a aventura era coisa de homens”.
A circunstância de mulheres que viajavam sós para explorar, conhecer e descubrir, era diferente: “Em séculos passados estas mulheres pagavam um preço muito elevado para chegar a fazer realidade o seu sonho de liberdade”. Na Inglaterra victoriana, muitas mulheres viajantes e aventureiras quiseram correr mundo, imbuídas do espírito efervescente de descoberta e conquista que imperava, bem como fruto da rebeldia contra usos e costumes hipócritas da época. Partiam por sua conta já que nem a Real Sociedade Geográfica de Londres, entidade que financiava os aventureiros ingleses, sequer reconhecía que uma mulher estivesse física e psiquicamente capacitada para viajar. Crónicas da época diziam que estas “eram feias, maria-rapaz e estranhas” !!! As que chegavam a lançar-se à aventura eram normalmente aristocratas, em boa posição social, mas perante a sociedade eram de moral duvidosa e tinham que enfrentar os convencionalismos, a chacota, a crítica, o desprezo da família e, não raro, a renúncia à herança. Daí também o mérito daquelas mulheres que largavam o seu conforto para ir viver com os beduinos no deserto ou para levar uma vida nómada e selvagem.
Segundo a psicóloga clínica, Neus Figueras (citada no mesmo artigo), os motivos que empurram uma pessoa para a aventura são a inquietação, a procura do novo, do conhecimento de si próprio e do mundo, de ampliar horizontes e a sabedoria que aporta o espírito descobridor: “as mulheres aventureiras não têm medo do risco e das suas consequências; enfocam os seus esforços naquilo que lhes interessa, por isso são muito estudiosas e preparam-se bem (lady Jane Digby, quando chegou a Damasco em 1893, falava árabe, turco e curdo …). São mulheres de carácter forte, seguras, com vistas largas, independentes, transgressoras e rebeldes e com um objectivo claro. Não são membros passivos da sociedade e querem demonstrá-lo a si mesmas e aos demais”… (continua)
Foto: Freira Alferes ou Catalina de Erauso
Se quisermos recuar no tempo para descubrir a primeira mulher viajante e aventureira, provávelmente deparamos com a história de freira Egeria. De origem galega, é considerada uma das ‘primeiras viajantes’. Viajou entre 381 e 384 por todo o Médio Oriente, seguindo as pisadas dos lugares bíblicos e contrariando as regras para chegar a Jerusalém, Egipto e Mesopotamia. Naqueles tempos viajar não era coisa de “todos os dias”: as dificuldades de transporte e o tempo requerido para percorrer aquelas distâncias, convertiam a actividade em algo para pessoas com espírito de viajante. O seu relato, dando conta de detalhes de lugares, pessoas, curiosidades e costumes, seria o primeiro livro espanhol de viagens: Itinerarium ad Loca Sancta. A primeira edição deste livro foi imprimida por Gamurrini em 1887 (a primeira tradução espanhola é de 1924, por Pascual Galindo Romero).
Nos vários livros que retratam mulheres viajantes, encontramos referências à curiosa história da audaz Freira Alferes, à travessia oceanica de Isabel Barreto ou às bravuras da pirata Grace O´Malley.
Uma justificação para o reduzido número de mulheres viajantes chegou-me num artigo de Anna T. Farran (in revista Introversion, de 15.11.09): “O sexo feminino teve que percorrer um longo caminho passando por cima de críticas e preconceitos sociais. A maioria delas, nem sequer passaram à história porque a aventura era coisa de homens”.
A circunstância de mulheres que viajavam sós para explorar, conhecer e descubrir, era diferente: “Em séculos passados estas mulheres pagavam um preço muito elevado para chegar a fazer realidade o seu sonho de liberdade”. Na Inglaterra victoriana, muitas mulheres viajantes e aventureiras quiseram correr mundo, imbuídas do espírito efervescente de descoberta e conquista que imperava, bem como fruto da rebeldia contra usos e costumes hipócritas da época. Partiam por sua conta já que nem a Real Sociedade Geográfica de Londres, entidade que financiava os aventureiros ingleses, sequer reconhecía que uma mulher estivesse física e psiquicamente capacitada para viajar. Crónicas da época diziam que estas “eram feias, maria-rapaz e estranhas” !!! As que chegavam a lançar-se à aventura eram normalmente aristocratas, em boa posição social, mas perante a sociedade eram de moral duvidosa e tinham que enfrentar os convencionalismos, a chacota, a crítica, o desprezo da família e, não raro, a renúncia à herança. Daí também o mérito daquelas mulheres que largavam o seu conforto para ir viver com os beduinos no deserto ou para levar uma vida nómada e selvagem.
Segundo a psicóloga clínica, Neus Figueras (citada no mesmo artigo), os motivos que empurram uma pessoa para a aventura são a inquietação, a procura do novo, do conhecimento de si próprio e do mundo, de ampliar horizontes e a sabedoria que aporta o espírito descobridor: “as mulheres aventureiras não têm medo do risco e das suas consequências; enfocam os seus esforços naquilo que lhes interessa, por isso são muito estudiosas e preparam-se bem (lady Jane Digby, quando chegou a Damasco em 1893, falava árabe, turco e curdo …). São mulheres de carácter forte, seguras, com vistas largas, independentes, transgressoras e rebeldes e com um objectivo claro. Não são membros passivos da sociedade e querem demonstrá-lo a si mesmas e aos demais”… (continua)
Foto: Freira Alferes ou Catalina de Erauso
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Viajantes e protagonistas …
Trecho do próximo livro: “Tal como as palavras ‘limíte’ ou ‘extremo’, a ‘aventura’ (na minha perspectiva: a aventura encontra-se, frequentemente, ao enfrentar o desconhecido, quando a exploração deste pressupõe um risco considerável) tem um significado diferente para cada pessoa e em cada fase da vida …. Messner* dizia que para ser aventura tem que incluir um «risco elevado» - no livro anterior contei histórias de explorações e aventuras levadas a extremos da resistência física e psicológica. Agora, além de introduzir novas histórias, pretendo descer uns degraus na ‘escadaria das dificuldades’, porque cada pessoa tem uma percepção diferente de ‘risco’! Vamos também ‘falar’ de aventuras imaginadas por um maior número de pessoas e, portanto, mais acessiveis a uma minoria um pouco mais numerosa de potenciais viajantes !!! Subjacente às histórias e propostas que se seguem está uma ‘aventura dos sentidos’ … Ou seja, uma aventura que não detém o exclusivo do alto risco e do elevado esforço fisico e mental. Pode até nem exigir esse esforço, mas tão só um despertar de sensações, um aguçar dos sentidos, uma exploração interior que contribui para a harmonia de corpo e mente, aproveitando as possibilidades que o mundo nos oferece …”.
Ana Isabel Mineiro, Cáceres Monteiro, Daniela Teixeira, Gonçalo Cadilhe, João Garcia, Jorge Vassalo, Maria Assunção Avillez, Miguel Arrobas, Nuno Lobito, Nuno Pedrosa, Tiago Alves, são protagonistas no capítulo dedicado aos viajantes portugueses. Outros nomes de exploradores descritos são: Mattias Giraud, Harry Egger, Joe Redington, Alexandre Mackenzie, Warren Harding, Alain Robert, Marcus Tobia, Erling Kagge, Evelyne Binsack, Ueli Steck, Doug Scott, La Condamine, Piotr Chmielinski, Robin Knox-Johnston, Lewis Pugh, Martin Strel, Peter Pinney, Dean Karnazes, Ludovic Hubler, Fran Sandham, Thomas Sbampato …
Ana Isabel Mineiro, Cáceres Monteiro, Daniela Teixeira, Gonçalo Cadilhe, João Garcia, Jorge Vassalo, Maria Assunção Avillez, Miguel Arrobas, Nuno Lobito, Nuno Pedrosa, Tiago Alves, são protagonistas no capítulo dedicado aos viajantes portugueses. Outros nomes de exploradores descritos são: Mattias Giraud, Harry Egger, Joe Redington, Alexandre Mackenzie, Warren Harding, Alain Robert, Marcus Tobia, Erling Kagge, Evelyne Binsack, Ueli Steck, Doug Scott, La Condamine, Piotr Chmielinski, Robin Knox-Johnston, Lewis Pugh, Martin Strel, Peter Pinney, Dean Karnazes, Ludovic Hubler, Fran Sandham, Thomas Sbampato …
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