segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Périplo maltês

10 autocarros, 3 barcos, 1 táxi, 1 avião e 1 carro, foram os 16 meios/trajectos utilizados, para regressar a Granada em 36 horas, depois de chegar a Azure Window. Ufff! quase 12 horas em viagem, sem contar tempos de espera, em apenas dia e meio!
Saindo cedo de Valletta, passando pela desolada ilha de Comino para mergulhar nas águas esmeralda da Blue Lagoon, que separa aquela do ilhote Cominotto, e continuando para a ilha de Gozo para alcançar o seu extremo ocidental (9 trajectos para ida e volta a Valletta em 12 horas), cheguei a Azure Window, a formação rochosa em arco, ex-libris e local edílico para mergulho scuba, com uma praia interior e fossas profundas.
Nesta ‘escapadinha’ de 4 dias conheci as 3 ilhas de Malta. Na ilha principal, Malta (cerca de 40km de comprimento por 8 de largura), percorri as ruas de Valletta (cidade fundada em 1566 pelo Grã Mestre e cavaleiro francês Jean Parisot de La Valette), como a Triq (rua) Reppublika que atravessa longitudinalmente a capital deixando transparecer resquícios do glamour de outros tempos. Valleta é um dos 3 sítios património da humanidade da UNESCO em Malta, além dos templos megalíticos de Mgarr e do Hypogeum Hal Saftieni (este, sem entrar porque sujeito a reserva com meses de antecedência). Percorri ainda as Três Cidades (Senglea, Vittoriosa e Copiscua), nas três penínsulas perpendiculares a Valletta (em Vittoriosa estão assinaladas as casas, ‘auberge’, por onde passaram os cruzados de Castela e Portugal, e os italianos, da ordem de St. John); o ponto mais alto da ilha, nas falésias da costa sul, em Dingli (Ta’Dmejrek a 253metros); os templos pré-históricos de Mnajdra e a espectacular Blue Grotto; e as praias de Gnejna e Golden Bay na costa oeste. A ilha de Comino (a mais pequena) tem um único hotel, uma torre de vigia ou fortificação e uma capela, mas o único motivo real de interesse é a lagoa e suas covas, para o snorkeling. Gozo cruza-se por completo em 30 minutos (uns 20km), com transbordo para um segundo autocarro em Victoria, onde vale a pena visitar a cidadela. O objectivo é a ‘janela’ Azure, o ponto mais distante do aeroporto de Malta. Antes da descida para a praia vale a pena uma fotografia ao santuário Ta’Pinu.

Como curiosidades, assinale-se que Malta praticamente não se ressentiu da crise (tem um desemprego residual de 4%); que não há pobreza e que os condutores de autocarro recebem cerca de 25.000 euros/ano; que, com 400.000 habitantes, tem a maior densidade populacional dentro da UE (1.282hab/km2); que é dos lugares mais seguros do mundo (taxas de crime menosprezáveis); que, além de ingleses, tornou-se um destino barato para jovens turistas espanhóis ávidos de ‘movida’; que o tráfico é bastante intenso; que fora da área de Valletta consegue-se encontrar sossego; que se vê bastante ‘sujidade’ e é comum atirar beatas e garrafas de plástico para o chão; que a sinalização (nomes de cidades) é bastante má; que o idioma estranhíssimo deste caldo de culturas tem origem fenícia e influência italiana, mas que toda a população fala inglês; que os horários são completamente inesperados (alguns templos abrem apenas das 9-11h da manhã e muitas lojas e pontos turísticos dão-se ao luxo de não abrir de tarde).
Fotos: Azure Window em Gozo, Blue Lagoon em Comino, Valletta e Blue Grotto em Malta

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Voltas ao Mundo

‘De Hong Kong à Austrália… via Dakar’ não foi um desses duros ralis pelos desertos africanos. Tratou-se sim da minha «viagem de 6 meses à volta do mundo, em barco, e das insólitas aventuras e impressões que este itinerário proporcionou ao navegar os oceanos para visitar alguns dos mais belos locais do planeta…». Esta volta ao Mundo teve pouco da verdadeira aventura de outras, mas não teve menos de beleza e de factos curiosos.
Esta crónica aborda vários tipos de Volta ao Mundo (algumas, desenvolvidas no próximo livro ‘Os novos exploradores e a aventura dos sentidos’), que reflectem, por sua vez, diferentes formas de viajar.

A primeira viagem de sempre à volta do Mundo foi realizada entre 1519-22, pelo português Fernão Magalhães (ainda que ele não tenha terminado a viagem). Em 1898, o americano Joshua Slocum concluiu a primeira viagem de circum-navegação do planeta, em solitário – tinha 51 anos. Aos 67, o velejador britânico Robin Knox-Johnson (o primeiro a circum-navegar a Terra em solitário e sem paragens), concretizou a sua terceira viagem de circum-navegação.
Se por mar se contam pela centena o número de solitários que deu a volta ao mundo (incluindo dois portugueses), por terra esse número é muito superior e as ‘formas’ muito mais variadas.
Jorge Sánchez, um velho conhecido de José Megre na ‘disputa’ dos mais viajados do mundo, efectuou sete voltas pelo mundo, 3 delas circundando o planeta, e escreveu mais de 15 livros sobre os seus périplos. Na sua lista dos ‘Top Travellers of the World’, o francês Brugiroux ocupava o 1º lugar (Megre o 8º, e o brasileiro Paulo Raymundo o 11º). Para o livro de recordes do Guiness, o ‘world’s most traveled man’, era um milionário californiano que pisou 250 territórios em 3 anos!!! Mas há quem lhe chame ‘coleccionador de carimbos’! André Brugiroux (Paris, 1937), somava o mesmo número de territórios visitados, mas ‘em qualidade’, acumulando quase 50 anos de vida ‘on the road’ - ele denomina alguns viajantes endinheirados de “je-mets-le-pied”, pela superficialidade das suas viagens.
Em 1999-2000, Filipe Palma viajou de avião ao redor do mundo, descendo em cada continente (excepto Antárctida) para percorrer longos trajectos em bicicleta (que somaram 10.000km). O cronista Gonçalo Cadilhe, evitava os aviões e utilizava sobretudo autocarros, boleias, ou caminhava a pé, na sua viagem de volta ao mundo de 2 anos, em 2002. O espanhol Sarto iniciou a sua viagem de volta ao mundo em 2008, tinha 25 anos. Fê-la por etapas, por dificuldades logísticas: percorreu a Ásia em jipe, a América do norte em moto, a do sul em bicicleta… Em 2009, o viajante Nuno Pedrosa concluiu a sua travessia de 3 anos em bicicleta pelas Américas, de norte para sul, percorrendo mais de 33.000km - praticamente a distância da circunferência da Terra nos trópicos, 36.784km. Em 1985, com 22 anos de idade Albert Amorós partiu de Barcelona (com a sua bicicleta e 60.000 pesetas no bolso) para uma viagem interior, ao redor do mundo: concluiu-a passados 8 anos. O alemão Heinz Stücke (outro da lista dos ‘Top Travellers’), acumula várias voltas ao mundo com a sua bicicleta, somando 40 anos em viagem.

Uma amiga espanhola, Violeta, actualizava a informação sobre o seu paradeiro, durante a sua volta ao mundo de 2009, com fotos no Facebook: escalava na Austrália, esquiava nos Andes, subia o vulcão Misti e percorria o Inka trail, no Peru, exibia paisagens dos Alpes, comia chocolates na Bélgica e fazia ‘não-sei-quê’ acolá… e enchia-nos de inveja!
A minha viagem de 2004, decorreu entre Hong Kong e Sidney mas… tomando o caminho mais longo! Passando o canal do Panamá ... Passei 11 estreitos e canais, cruzei o equador e todos os meridianos do globo, fintando tempestades tropicais e furacões, para visitar as mais belas ilhas e 50 territórios. Esquiar em Hiroshima, surfar no Hawai e em Durban, mergulhar com tubarões na Polinésia, nadar com raias em Gran Cayman, remar um kayuko nas ilhas de San Blás, fazer snorkling em Guam e Mauritius, saltar de pára-quedas sobre o deserto da Namíbia, subir o vulcão Etna na Sicília ou a emblemática Table Mountain de Capetown…, foram as mais excitantes aventuras em locais de sonho (artigo parcial em http://viagenseaventuras4.blogspot.com).