segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Já chegou!

Já cheguei da expedição ao Nepal! Observei e informei-me sobre 2 glaciares: o Khumbu, na base do Everest, e o Gebrayak, frente ao Cho Oyu, do lado tibetano. Os resultados podem ser surpreendentes (darei detalhes em breve). Mas o objectivo desta ‘Portuguese Glacier Watch – Cho Oyu 2011’ era também o de subir ao topo de uma montanha de mais de 8 mil metros e descer a esquiar. Passei assim a ser o ‘primeiro português a descer em esquis de mais de 8 mil metros de altitude’. Aqui ficam os links para alguns videos na montanha: o acampamento base; a chegada ao Campo 1; a passagem do serac; a descida em esquis...
http://www.facebook.com/?ref=tn_tnmn#!/photo.php?v=10150487251464778&set=vb.613684777&type=3&theater (my tent)
http://www.youtube.com/watch?v=D0Y064EvoU8 (killer slope)
http://www.youtube.com/watch?v=mOuRhK3XQjM (serac)
http://www.youtube.com/watch?v=kRUM1xx18-s (ski)

Mas, o que chegou também (e esta é a notícia) foi o meu barco – o Paraguaçú!
De momento fica nas docas em Belém, onde se submeterá a pequenas reparações e ajustes, e à colocação de autocolantes identificativos da travessia. Se o tempo permitir farei algum treino na foz do Tejo, durante este mês de Novembro. No primavera do ano que vem o ‘Paraguaçú’ será transportado para LAGOS, e treinos diários terão lugar durante todo o verão frente às praias algarvias: uma boa oportunidade para novos sponsors ‘darem nas vistas’!
A partida para a grande travessia está marcada para o final do ano de 2012 (ver post anterior) – este ano celebra os 90 anos da primeira travessia aérea do Atlântico sul, por Coutinho e Cabral.

Fotos: a caminho do campo 2 do Cho Oyu; a montanha; Paraguaçú frente ao Tejo; com o Amadeu a discutir detalhes da travessia.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

‘Um dia no Tibete’

Amanhece limpo. Geada.
Pesagem da bagagem: 1650kg para todo o grupo (a mim correpondem 61kg, 14 dos quais levo nas costas). O homem que fazia a leitura da balança (sustentada por outros dois) apenas via de um olho e este tinha-o em muito mau estado, a julgar pelo aspecto vermelho do globo ocular. Quando me dei conta, reparei que ao peso real de cada volume acrescentava sempre um ou dois quilos mais, não tenho a certeza se por defeito físico ou pelo defeito da cobiça!
Depois, iniciamos a caminhada para o Campo Intermedio (3h15’ de duração). Pressão atmosférica, 531mbar.
A hospedeira tibetana da ‘casa de chá’, uma das 4 tendas permanentes neste acampamento, depois de nos servir um chá de manteiga de yak e de me mostrar os seus dois filhotesa dormir, despreocupadamente sacou da teta e amamentou o último dos rebentos.
Enquanto isso, um jovem militar chinês de patente, na mesa do canto, jogando dominó com 3 tibetanos com uma atitude talvez mais submissa do que relaxada, apaga ostensivamente a beata no chão apesar do cinzeiro que tinha na frente do nariz; com o chapéu, para impor o devido respeito, afasta o outro pequenote que se aproximara com curiosidade e mimo, ao mesmo tempo que fala à boca grossa com os seus parceiros de jogo.
Entram 2 camionistas. A jovem mulher, no seu traje típico – a saia-avental, ou gaptel, por baixo da qual usa calças, e o cinto largo e colorido, ou cara – atende-os sem deixar de dar de mamar.
A casa de chá, com 6 mesas, é, simultaneamente, sala de jogo e de jantar, cozinha e quarto de dormir. A casa de banho? A natureza fria... - estávamos a 5.200metros de altitude.
E quando a jovem mãe, depois de acarinhar os filhos, ambos sofrendo de algo mais do que uma forte espectoração, depois de me mostrar como se prepara o chá num tubo longo e de se ocupar de algumas tarefas de limpeza, começava a parecer muito feminina, eis que arregaça a manga da blusa, puxa uma daquelas cuspidelas vindas do fundo da garganta, e mais fundo (também típico chinês e nepalês), deixa a saliva escorrer para o antebraço e, com o dedo indicador, esfrega-o como se estivesse a espalhar algum bálsamo regenerador...

Enquanto as grandes cidades do mundo vivem ao ritmo do sobe e desce do Dow Jones e de outros índices, e dos chorudos contratos de fornecimentos e de construção, nestas altitudes dos Himalaias continua a viver-se ao ritmo das panelas e da meteorologia, e do passo dos yaks!
Gopal, o nosso cozinheiro, já aprendeu a dizer ‘obrigado’. Agora andamos a insistir com o ‘Bom dia’!

Foto 3: Landomat e Tenda, as duas filhas, com um dos bebes; ao fundo o perfil do Cho Oyu

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Os novos Exploradores



Entre outras, retrato experiências significativas (em duração, distância ou quantidade) de diversos viajantes. As histórias e referências de/a portugueses incluem: A. Costa Motta, Amadeu Garcia, Ana Isabel Mineiro, Ângelo Felgueiras, Cáceres Monteiro, Daniela Teixeira, Elisabete Jacinto, Fernando Nobre, Genuino Madruga, Glória Serrazina, Gonçalo Cadilhe, Joana R. Pinho, João Almeida, João Batista, João Garcia, João Oliveira, Jorge Vassalo, José Hermano Saraiva, José Lima, José Megre, José Pádua, José Tavares, Lúcio Lampreia, Manuel Gomes Martins, Maria Assunção Avillez, Miguel Arrobas, Miguel Calado Lopes, Miguel Torga, Nuno Frazão, Nuno Lobito, Nuno Pedrosa, Nuno Vicente, Rosa Carvalho, Tiago Alves, Victor Carvalho (e as instituições AAAA de Portimão, e IPSSs como a AMI, APPC-Leiria, Humanitarius), e outros na ‘Cronologia de feitos de portugueses’.

Encomendas via Bubok.pt: http://www.bubok.pt/libros/3592/Os-novos-exploradores-e-a-aventura-dos-sentidos
Preço: 16,5€ + gastos de envio

Encomendas directas ao autor, com dedicatória (promocional para as primeiras 100 unidades): em mão, 14,5€

Disfruta este verão com uma leitura simultâneamente amena e estimulante, e oferece a um familiar ou amigo.

Um abraço,
José Tavares

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Crónicas de glaciares - ‘Noruega II’

A Noruega é liiiinda... mas os glaciares também estão em perigo!

Dia 23 parto para o Nepal. Tal como na Noruega, pretendo analisar efeitos da redução dos glaciares do vale do Khumbu, sobranceiro ao Everest, mas desta vez levando os esquis às costas com a intenção de neles descer da sexta montanha mais alta da Terra.

Anteriormente (crónica 26.11.10), dei noticia de que o glaciar de Chacaltaya, na Bolívia, desapareceu definitivamente em 2008 (como previsto 10 anos antes). Com isso encerrou a respectiva pista de ski e o panorama é agora desolador. Já não há neve a 5.300m de altitude! (tal como referi a respeito do Kilimanjaro: os efeitos notam-se mais drasticamente nas grandes altitudes e latitudes perto do equador).

Na Noruega situa-se o maior glaciar da Europa - o Jostedalsbreen (breen = glaciar), com uma área de 487km2. Actualmente o plateau tem uma extensão de pouco mais de 40km mas já foi muito longo...
Estive na ‘lingua’ de Boyabreen, uma das 25 que saem do glaciar principal. Boyabreen é braço mais longo, alimenta o fiord de Fjaerland, e está em retrocesso paulatino.
Na foto vemos a evolução desse retrocesso desde 1886. Na foto seguinte vemos a evolução das temperaturas globais desde 1860, notando-se claramente o acentuado incremento a partir da década de 1980.


A história do consumo energético e do crescimento económico e demográfico da humanidade nos últimos 100 anos, “indica-nos que as alterações climáticas são, em boa parte, consequência de um desenvolvimento económico e demográfico sem precedentes, possibilitado pelo uso massivo dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás)” (por Mariano Marzo, catedrático de Recursos Energéticos da Fac. Geologia da Universidade de Barcelona, ao El País, 22.02.11). Segundo a OMM (org. mundial de meteo), 17 países registaram recordes de temperaturas máximas (Ago.10).

É para alertar para estes factos, e para contribuir para a consciencialização das suas consequências, que pretendo levar a cabo a travessia do Atlântico em barco a remos, em 2012 (projecto ‘Paraguaçú’, em http://travessiaoceanica.blogspot.com).

Curiosidade: Em 1972 um pequeno avião despenhou-se no plateau de Jostedalsbreen. O piloto morreu e foi evacuado. Os restos do aparelho foram sendo cobertos pela neve... Devido ao lento movimento das massas de gelo, espera-se que algum dia os destroços reapareçam no topo do Boyabreen.
(outras fotos no Facebook: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150389263954778.435119.613684777&l=7529cdb7a4&type=1 )

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Preparação para a grande Travessia

Depois do Desafio 3 Peaks, no Reino Unido (fotos em posts anteriores e vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=b9UXfAwCg0sww.youtube.com/watch?v=b9UXfAwCg0s), seguiu-se o cume mais elevado da Noruega (http://www.youtube.com/watch?v=q2DHyNo5cp4) – outro para a lista dos ‘mais elevados da Europa, por país’. Após mais alguns treinos nos cumes de Serra Nevada, nos últimos dias do mês, espero ficar ‘no ponto’ para subir o Cho Oyu (8.200m), nos Himalaias, com os esquis às costas. Nesta expedição (partida no final de Agosto) - de volta ao tema da consciencialização para a redução dos glaciares - conto com as neves das monções para me facilitar a descida do cume a esquiar.
Esta aparente euforia de cumes parece servir de compensação para o verão de abstinência de 2010 (reabilitação), mas não! Também esta actividade se destina a lançar o meu próximo desafio, previsto para 2012: atravessar o oceano Atlântico num barco a remos!
Os propósitos desta travessia, conforme o ‘dossier do projecto’ (http://travessiaoceanica.blogspot.com), são: homenagear os navegadores portugueses, seguindo a rota de Pedro Álvares Cabral até ao Brasil, e os aviadores pioneiros, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, 90 anos depois da que foi a primeira travessia aérea do Atlântico sul; levar uma mensagem de alerta para o problema crescente das ‘Alterações Climáticas’, em geral, e da desflorestação da floresta amazónica, em particular, relembrando a necessidade de praticar a sustentabilidade, recorrendo a energias alternativas; e estender ao povo brasileiro, guardião daquele tesouro da Terra, um abraço com votos do reforço dos laços que nos unem.
A rota será feita, remando em solitário, entre Marrocos/ilhas Canárias/Cabo Verde e Natal/Brasil, numa extensão de cerca de 4.500 km de oceano e uma duração esperada de 110 dias. O inicio da viagem está previsto para o final do ano de 2012, estando destinado o verão desse ano para treinos ao longo das costas algarvias.

Nas vésperas do lançamento do meu novo livro ‘Os novos exploradores e a aventura dos sentidos’ (http://www.bubok.pt/libros/3592/Os-novos-exploradores-e-a-aventura-dos-sentidos), espero ter oportunidade de fazer uma apresentação ‘oficial’ deste e do projecto de travessia ‘Paraguaçú 2012’ - http://paraguacu2012.blogspot.com. Recordo que continúo à procura de entidades interessadas em participar, e qualquer apoio e patrocinio a esta iniciativa é bem vindo.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Crónicas da Noruega I

A Noruega é liiiiiiinnda!
As cascatas (maioritariamente, verdadeiras cataratas) são tão comuns que nem estão assinaladas como pontos de interesse e nem os locais param para as admirar! Mal se conhecem vedações, nas casas como nos campos. As velocidades em estrada são muito reduzidas (80km/h em geral, 100, raramente) e, embora não sejam cumpridas escrupulosamente, as autoridades têm a amabilidade de revelar onde estão colocados os radares. Uma limpeza... imaculada que só visto! Bom, imaculada, imaculada...!! No cume do Glittertint encontrei uma pedra chata sobre a neve com uma dezena de moedas em cima, deixadas por alguém muito supersticioso, e uma beata, deixada por alguém para quem aquele ar de altitude não era suficientemente puro! Claro, não me fiz rogado, e não sendo eu a divindade que vai satisfazer os desejos mais descabelados daqueles crentes, aceitei parte da simpática oferenda ... Mas nada que se compare com o cume do Ben Nevis (Escócia) onde se diz que há mais cascas de banana do que rochas! Enfim, a Noruega é um postal, como o de uma Suiça com menos habitantes por km2 a viver junto às margens dos lagos e enseadas sem utilizar tanto a montanha.
Glittertint, que soa como o Ramalho Eanes a pedir um ‘litre de tinte’, e que por isso a alcunhei de ‘Tinto’, é a montanha que em tempos se julgou ser a mais alta da Noruega. Isto até que, há pouco mais de duas décadas, o aumento das temperaturas lhe fez derreter o capacete de gelo que transportava permanentemente, fazendo minguar o seu cume em 5 metros e deixando-o 4 metros mais baixo que o Galdhoppigen (2.469m), o novo verdadeiro senhor das alturas em terras escandinavas (sobre 'glaciares' escreverei numa próxima crónica).
De qualquer forma, os 3 cumes mais elevados da Noruega estão todos situados no Parque Nacional Jotunheimen (300km a noroeste de Oslo). Subi aos dois mais altos. Mas porque é que não me satisfiz em subir ao mais alto, onde tudo correu tão bem, com um tempo tão bom!? Não! Tinha que voltar a meter-me na montanha e o ‘Tinto’ não me tirou a chuva de cima. Os ‘showers’ (alternância de chuva e sol), previstos para toda a semana, afinal não o foram no dia anterior e transformaram-se num ‘shower’ permanente neste dia – ou melhor, num banho de banheira, considerando o estado em que cheguei. Antes tivesse sido um shower de vinho! Após uns prados repositores, e a travessia de alguns riachos, aquela ladeira de cascalho com 500 metros de desnivel acentuado, repleta de rocha solta e escorregadia – como se a montanha regorgitasse pedra regular e permanentemente, não se sabe porque orifício -, tornou-se monótona sob a chuva míudinha ‘penetra tudo’ e fez-me recordar a minha corrida para o topo do Snowdonia (Gales) quando, inadvertidamente, pisei uma lage com liquenes e, num efeito de aquaplaning, fui cuspido para fora do trilho, voando 2 metros costa a baixo mas aterrando, por sorte, de rabo sobre a erva fofa...
Como curiosidades digo apenas que ninguém ali usa bastões, o que não sendo fundamental para as subidas, é de preciosa ajuda para amortecer as fortes descidas sobre pedras soltas e escorregadias. E também que, a denominação dos aeroportos está feita para te confundir: ao de Oslo chamam Gardemoen; ao de Rygge também chamam Moss; e ao de Sandfjord chamam também Torp. Acontece que todos estão nos arredores de Oslo (de 30 minutos a 2 horas) mas, ora utilizam um nome ora outro, indiscriminadamente...

Videos do topo da Noruega em http://www.youtube.com/watch?v=q2DHyNo5cp4

quinta-feira, 30 de junho de 2011

3 Peaks Challenge

O desafio dos 3 picos, no Reino Unido, consiste em subir ao cume mais elevado da Inglaterra, Escócia e Gales em 24 horas. É que o mais alto deles alcança apenas 1.344m.














Comecei pelo Snowdonia (1.085m, em Gales), em passo de corrida. A meteorologia castigou-me lá perto do cume. Dirigi-me depois ao Lake District, um parque nacional com algumas das mais bonitas paisagens do R.U. O tempo continuava chuvoso. Preparei este périplo britânico também para ver as vistas, por isso, arrisquei e conduzi até às terras altas da Escócia onde encontrei um Ben Nevis com céu descoberto. De caminho, é de assinalar a beleza do Lago Lomond e o espectacular vale glaciar de Glen Coe, com a sua pista de ski com base a apenas cerca de 400 metros de altitude. A passagem por Glasgow, repleto de obras de Santa Ingrácia e com uma sinalização perfeitamente caótica, é para esquecer!
Às 3 e meia da madrugada já há luz, por isso saí cedo. Mas a meio caminho já tinha percebido o que me aguardava. Novo temporal no cume do Ben, o mais alto das ilhas britânicas!
Depois dei uma corrida ao Loch Ness, mas antes de partir já sabia o que me aguardava! Chuva e mais chuva! Pelo menos pude ver o monstrinho do lago…
Descontando o tempo perdido em Glasgow e o saltinho ao Ness ainda podia subir aos 3 cumes em 24 horas, por isso conduzi de novo para o Skafell Pike (977m). Cheguei às 5 da tarde e às 19h10 estava no cume, 10 minutos antes de perfazer 36 horas (as 24h obrigam a subir um cume de noite e a ter um condutor disponível). Desta vez o tempo deu-me tréguas. Terminei o meu périplo, com mais de 1700 milhas percorridas, junto aos blocos de pedra de 45 toneladas e 4 mil anos de antiguidade de Stonehenge. Um lugar com uma magia especial.
Este raid de montanhas constituiu um bom treino para a minha viagem de Setembro ao Nepal. Vou tentar descer do Cho Oyu, a 8.200m, com esquis. Por outro lado fiz um reconhecimento de um barco de travessia para o meu projecto ‘Paraguaçú 2012’. Em breve darei notícias sobre estas duas aventuras.

Fotos Facebook: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150361964439778.425866.613684777&l=5956433d15
Video da subida ao Skafell Pike no Youtube: : http://www.youtube.com/watch?v=Hq_aCw-YJAo e http://www.youtube.com/watch?v=b9UXfAwCg0s