terça-feira, 26 de julho de 2011

Crónicas da Noruega I

A Noruega é liiiiiiinnda!
As cascatas (maioritariamente, verdadeiras cataratas) são tão comuns que nem estão assinaladas como pontos de interesse e nem os locais param para as admirar! Mal se conhecem vedações, nas casas como nos campos. As velocidades em estrada são muito reduzidas (80km/h em geral, 100, raramente) e, embora não sejam cumpridas escrupulosamente, as autoridades têm a amabilidade de revelar onde estão colocados os radares. Uma limpeza... imaculada que só visto! Bom, imaculada, imaculada...!! No cume do Glittertint encontrei uma pedra chata sobre a neve com uma dezena de moedas em cima, deixadas por alguém muito supersticioso, e uma beata, deixada por alguém para quem aquele ar de altitude não era suficientemente puro! Claro, não me fiz rogado, e não sendo eu a divindade que vai satisfazer os desejos mais descabelados daqueles crentes, aceitei parte da simpática oferenda ... Mas nada que se compare com o cume do Ben Nevis (Escócia) onde se diz que há mais cascas de banana do que rochas! Enfim, a Noruega é um postal, como o de uma Suiça com menos habitantes por km2 a viver junto às margens dos lagos e enseadas sem utilizar tanto a montanha.
Glittertint, que soa como o Ramalho Eanes a pedir um ‘litre de tinte’, e que por isso a alcunhei de ‘Tinto’, é a montanha que em tempos se julgou ser a mais alta da Noruega. Isto até que, há pouco mais de duas décadas, o aumento das temperaturas lhe fez derreter o capacete de gelo que transportava permanentemente, fazendo minguar o seu cume em 5 metros e deixando-o 4 metros mais baixo que o Galdhoppigen (2.469m), o novo verdadeiro senhor das alturas em terras escandinavas (sobre 'glaciares' escreverei numa próxima crónica).
De qualquer forma, os 3 cumes mais elevados da Noruega estão todos situados no Parque Nacional Jotunheimen (300km a noroeste de Oslo). Subi aos dois mais altos. Mas porque é que não me satisfiz em subir ao mais alto, onde tudo correu tão bem, com um tempo tão bom!? Não! Tinha que voltar a meter-me na montanha e o ‘Tinto’ não me tirou a chuva de cima. Os ‘showers’ (alternância de chuva e sol), previstos para toda a semana, afinal não o foram no dia anterior e transformaram-se num ‘shower’ permanente neste dia – ou melhor, num banho de banheira, considerando o estado em que cheguei. Antes tivesse sido um shower de vinho! Após uns prados repositores, e a travessia de alguns riachos, aquela ladeira de cascalho com 500 metros de desnivel acentuado, repleta de rocha solta e escorregadia – como se a montanha regorgitasse pedra regular e permanentemente, não se sabe porque orifício -, tornou-se monótona sob a chuva míudinha ‘penetra tudo’ e fez-me recordar a minha corrida para o topo do Snowdonia (Gales) quando, inadvertidamente, pisei uma lage com liquenes e, num efeito de aquaplaning, fui cuspido para fora do trilho, voando 2 metros costa a baixo mas aterrando, por sorte, de rabo sobre a erva fofa...
Como curiosidades digo apenas que ninguém ali usa bastões, o que não sendo fundamental para as subidas, é de preciosa ajuda para amortecer as fortes descidas sobre pedras soltas e escorregadias. E também que, a denominação dos aeroportos está feita para te confundir: ao de Oslo chamam Gardemoen; ao de Rygge também chamam Moss; e ao de Sandfjord chamam também Torp. Acontece que todos estão nos arredores de Oslo (de 30 minutos a 2 horas) mas, ora utilizam um nome ora outro, indiscriminadamente...

Videos do topo da Noruega em http://www.youtube.com/watch?v=q2DHyNo5cp4

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