sábado, 22 de julho de 2017

Arctic summits

Cumes do Ártico – ‘Scandi Peaks 2017’                               

Veni, vidi, subi! Assim foi com cada um dos cumes mais altos dos países escandinavos (fotos em baixo).
‘Cumes do Ártico’ refere-se apenas aos cumes dos países escandinavos (o mais alto de cada país), que se situam próximos do Círculo Polar Ártico. Neste caso, o Hvannadalshnúkur da Islândia (2.110 m), ligeiramente a sul do círculo polar ártico, e o Halti-Haldi da Finlândia (1.331 m) e o Kebnekaise da Suécia (2.111 m), ambos a norte do círculo polar ártico. Poderíamos considerar outros países escandinavos como a Dinamarca e a Noruega mas os seus pontos mais elevados (respetivamente, Mollehoj a 170 metros, e Galdhoppigen a 2.469 m.) encontram-se bastante mais a sul da linha do sol da meia-noite.
O facto de estes cumes, que não são excessivamente elevados, se encontrarem em latitudes tão a norte, confere-lhes um certo grau de dificuldade devido, sobretudo, ao frio e à inconstância (imprevisibilidade) da meteorologia. Se nas minhas subidas a montanhas posso calcular um rácio aproximado de um cume com mau tempo para cada três com bom tempo, no caso dos ‘Cumes do Ártico’ o cenário alterou-se consideravelmente. Vejamos como:
- Na Dinamarca (2017), o Mollehoj, na ilha Sjaelland, exigiu um ‘passeio’ de automóvel de 580 km (ida e volta, desde o aeroporto de Copenhagen), e dois minutos a caminhar, num dia de sol, desde a beira da estrada até chegar a uma ligeira elevação num pequeno bosque encantado.
- Na Noruega (em 2011), o Galdhoppigen, 300 km a NW de Oslo, permitiu-me a aproximação numa magnífica manhã de sol, exigindo umas horas de caminhada em montanha, com neve a partir, talvez, dos 1.800 metros. Mas, no dia seguinte, ao descer do Glitertint (2.468 m, o segundo mais elevado do país e que já foi o mais elevado quando o capacete de gelo que o cobria era mais espesso), no outro lado do vale, a montanha brindou-me com uma molha monumental, daquelas de ter que espremer as meias…
- Na Islândia, o Hvannadalshnúkur (ou ‘Kvana’; lê-se Kvana-dalsh-núkur) criou-me alguma ansiedade: a montanha, cujo cume é o cone de um antigo vulcão extinto, encontra-se rodeada de glaciares em movimento e como tal repleta de gretas instáveis e profundas; ainda paira no ar a história de dois alemães que em 2015 desapareceram sem deixar rasto numa dessas crevasses; várias empresas deixaram de conduzir grupos a esse cume e a única que o faz, fá-lo com um mínimo de 3 pessoas (ou seja dois clientes e um guia, ou um cliente e dois guias). Claro que há rotas mais seguras que outras. Mais ainda se houver bastante neve e esta se encontrar compacta (como era o caso em junho de 2017). Sendo assim, e depois de ter feito os trabalhos de casa e de ter falado com guias locais, parti em solitário. O dia amanheceu bonito. Dos 100 metros de altitude da partida aos 1400 não há problemas. Depois entramos na neve… Aos 1800 metros alcançamos um extenso plateau e é ali que as gretas são mais problemáticas. Como tal há que contornar o problema mas, justamente ao começar a caminhar no plateau, a ‘meteo’ brindou-me com um ‘white out’ total. Visibilidade que chegou a ser de apenas um par de metros… Eu vinha da travessia da Groenlândia, onde tinha navegado naquelas condições, utilizando a bússola, o sol, e até o vento. E assim cheguei àquele cume traiçoeiro sem mais percalços.
- Na Finlândia (julho de 2017), o Halti-Haldi, ou Haltiatunturi (Halditsohkka em Sami), não constituiu especial problema para além da distância (10 horas e 15 minutos desde o ponto em que acampei, a 600 metros de altitude, e caminhada total de 38,5 km) que percorri. Mas o facto é que esta montanha brindou-me, lá em cima, com um frio cortante, de bastante respeitar.
- Já na Suécia, 5 dias depois de ascender ao Halti, ao chegar à base do Kebnekaise deparei com previsões de empioramento considerável do tempo pelo que, depois de 36 km em bicicleta, resolvi na mesma jornada caminhar os 19 km até ao refúgio de montanha e prosseguir com os 8 km mais até ao cume (e regresso à tenda montada junto do refúgio). O facto é que o tempo se fechou a meio da subida. Mal se via o cume e assim que cheguei lá ao topo, a visibilidade extinguiu-se por completo. Desci a correr para não perder o ‘norte’, que neste caso ficava para sul, e quando cheguei à parte de rocha, pelos 1800 metros, a chuva não me largou até entrar na tenda. Foi uma jornada de 17 horas de duração e 71 km de distância, e mais uma vez, cheguei a porto de abrigo encharcado que nem um pinto.

Para subir estes dois últimos cumes viajei para Tromso e parti para a montanha em bicicleta. Entre uma e outra distavam 500 km (mais 500 de regresso ao aeroporto de Tromso). Com a chegada ao Kebnekaise, ficam para trás todos os cumes de mais de dois mil metros do projeto ‘Europe’s highest summits’ ou ‘Cume mais alto de cada país da Europa’ (na verdade, também a maioria dos cumes de entre mil e dois mil metros, sendo que os pontos com menos de 900 metros de altitude já nem considero como de uma montanha mas uma simples elevação e como tal não os vou perseguir).
Em conclusão: o cenário do bom e do mau tempo nos ‘Cumes do Ártico’ passou a ser de uns 50-50%! Mas o meu (agora) lema de viagem manteve-se: veni, vidi, subi!

O peso da carga: no aeroporto deixei a fita com que embalei a bicicleta; subi ao avião com uns 34 quilos de carga; no avião que me levou a Tromso deixei um livro...; na segunda montanha perdi o bidom de água (como que adivinhando que o ia rifar) e um gorro; nessa montanha abandonei as luvas de ski (encharcadas e mais pesadas) e no ponto de partida deixei as meias de montanha (molhadas e cheirosas); de caminho consumi toda a comida e suplementos que levara; de novo no aeroporto de Tromso deixei a bicicleta (recuperando alguns acessórios), e entrei no avião com não mais de 16 quilos...
  
Arctic summits – ‘Scandi Peaks 2017’                        

Veni, vidi, subi! (Arrived, looked, climbed!) It was like this with every of the highest point of each of the Scandinavian countries (photos below).
‘Arctic summits’ refers only to the summit of each Scandinavian country that is located close to the polar circle. In this case, the Hvannadalshnúkur of Iceland (2.110 m), slightly south of polar circle, and the Halti-Haldi of Finland (1.331 m) and the Kebnekaise of Sweden (2.111 m), both further north then the polar circle. We could consider other Scandinavian countries like Denmark and Norway but their highest points (respectively, Mollehoj of 170 meters, and Galdhoppigen of 2.469 m.) are located quite south of the line of the midnight sun.
The fact that these summits (not too high) are located in such northerly latitude gives them a certain degree of difficulty due to the cold and weather instability.  
If in my mountain climbs I could calculate an approximate ratio of one bad weather summit for each three with good weather, now on the Arctic Summits, the scenario changes considerably. Let’s see how:  
- In Denmark (2017), the Mollehoj (Sjaelland island), demanded a car ride of 580 km (go and back, from the Copenhagan airport), and a two minutes walk on a sunny day, to a slight elevation midst a magic wood.
- On Norway (2011), the Galdhoppigen, 300 km NW of Oslo, allowed me to get close during a great sunny morning, demanding a few hours climbing. But, on the next day, while coming down from the Glitertint (2.468 m, the second highest of the country, once the highest, as the ice cover on the top was thicker and higher), on the other side of the valley, the mountain offered me one of this persistent rains that let me wet as bird…
- On Iceland, the Hvannadalshnúkur (or ‘Kvana’) generated some anxiety: the mountain, which the summit is the cone of an extinct volcano, is surrounded by glaciers, and these are full of moving deep crevasses – in the air still the tragic event of the two Germans that disappeared on them in 2015. Of course there are routes safer than others. Especially if there is a lot of snow and the snow is compact (this was the case in June 2017). After having done my homework, and talking to local guides, I’ve started the climb solo. Dawn was pretty nice. From the starting point at 100 meters high to 1.400 there is no problems. Than we walk into the snow… At 1.800 meters we reach a plateau where crevasses are a problem one has to surround. But it was just there that the weather presented me a total white out… As I was coming from the Greenland crossing, I had the experience of navigating using a compass, the sun, and even the wind. And so I’ve reached that traitorous summit, with no further problems…   

- In Finland (July 2017), the Halti-Haldi, or Haltiatunturi (Halditsohkka in the Sami language), did not present special problems besides the distance (10 hours 15 minutes from the starting point and back to the tent, after 38,5 km) crossed. The fact is that the mountain presented me, up there, with a respectable cutting wind.
- In Sweden, 5 days after climbing the finish Halti, when arriving at the base of the Kebnekaise (after 36 km by bicycle and 19 km walking) the forecast predicted bad weather for the next days, so, I kept going up on the same day – another 8 km, having then to return to my tent 8 km down. The weather got worse half way to the summit. I could barely see the top when I got close, and when I got there it closed definitely. I had to run down not to lose the north (which was, in this case, the south) and when I got down to the altitude of 1800 m the rain was pouring consistently and didn’t get off me until I was inside my light and narrow tent. It was a 17 hours and 71 km journey and, once again, I got to my shelter wet as a bird…

To climb these two summits Finland and Sweden), I have traveled to Tromso and rided the bicycle up to the mountain: 500 km between the first and the second (plus another 500 km to get back to Tromso). After Kebnekaise, I have finished all the mountains higher than 2.000 meters of the project ‘Europe’s highest summits’ (or the ‘highest mountain of each country of Europe’, and also many of the lower – truth is any mountain smaller than 900 meters is just a hill, so, I do not intend to pursue all of the small ones).

The conclusion being that, the scenario for the ‘Arctic summits’ changed for a 50-50% between summits with good and bad weather! But, my new motto while travelling remained: veni, vidi, subi! 

 Tromso airport (Norway)
 way to Haldi, highest of Finland, from the norwegian side
  way to Haldi, highest of Finland, from the norwegian side
  starting point to climb the Haldi, highest of Finland, on the norwegian side
highest of Finland summit
 Norway, way to Finland
  Norway, way to Finland
  Norway, via Lapica (Lapland), way to Finland
 Norge-Suomi border, on the 7th july 2017
 camping as soon as I entered Finland, coming from Norway
 Swedish-Finish border
 Nikkaluokta, access to the Kebnekaise
 Kebnekaise approach
 Kebnekaise approach
 Kebnekaise summit, 2.111 m
 Kebnekaise, Sweden
 Sweden: after Kebnekaise climb, on the way to norwegian border
 somewhere in Norway
 Senja island, Norway
 Tromso 
Tromso airport: goodbye 'Maria'