Cumes do Ártico – ‘Scandi Peaks 2017’
Veni, vidi, subi! Assim
foi com cada um dos cumes mais altos dos países escandinavos (fotos em baixo).
‘Cumes do Ártico’
refere-se apenas aos cumes dos países escandinavos (o mais alto de cada país),
que se situam próximos do Círculo Polar Ártico. Neste caso, o Hvannadalshnúkur
da Islândia (2.110 m), ligeiramente a sul do círculo polar ártico, e o Halti-Haldi
da Finlândia (1.331 m) e o Kebnekaise da Suécia (2.111 m), ambos a norte do
círculo polar ártico. Poderíamos considerar outros países escandinavos como a
Dinamarca e a Noruega mas os seus pontos mais elevados (respetivamente, Mollehoj
a 170 metros, e Galdhoppigen a 2.469 m.) encontram-se bastante mais a sul da
linha do sol da meia-noite.
O facto de estes cumes, que
não são excessivamente elevados, se encontrarem em latitudes tão a norte,
confere-lhes um certo grau de dificuldade devido, sobretudo, ao frio e à inconstância
(imprevisibilidade) da meteorologia. Se nas minhas subidas a montanhas posso
calcular um rácio aproximado de um cume com mau tempo para cada três com bom
tempo, no caso dos ‘Cumes do Ártico’ o cenário alterou-se consideravelmente.
Vejamos como:
- Na Dinamarca (2017), o
Mollehoj, na ilha Sjaelland, exigiu um ‘passeio’ de automóvel de 580 km (ida e
volta, desde o aeroporto de Copenhagen), e dois minutos a caminhar, num dia de
sol, desde a beira da estrada até chegar a uma ligeira elevação num pequeno
bosque encantado.
- Na Noruega (em 2011), o Galdhoppigen,
300 km a NW de Oslo, permitiu-me a aproximação numa magnífica manhã de sol,
exigindo umas horas de caminhada em montanha, com neve a partir, talvez, dos
1.800 metros. Mas, no dia seguinte, ao descer do Glitertint (2.468 m, o segundo
mais elevado do país e que já foi o mais elevado quando o capacete de gelo que
o cobria era mais espesso), no outro lado do vale, a montanha brindou-me com
uma molha monumental, daquelas de ter que espremer as meias…
- Na Islândia, o Hvannadalshnúkur
(ou ‘Kvana’; lê-se Kvana-dalsh-núkur) criou-me alguma ansiedade: a montanha, cujo
cume é o cone de um antigo vulcão extinto, encontra-se rodeada de glaciares em
movimento e como tal repleta de gretas instáveis e profundas; ainda paira no ar
a história de dois alemães que em 2015 desapareceram sem deixar rasto numa
dessas crevasses; várias empresas deixaram de conduzir grupos a esse cume e a
única que o faz, fá-lo com um mínimo de 3 pessoas (ou seja dois clientes e um
guia, ou um cliente e dois guias). Claro que há rotas mais seguras que outras.
Mais ainda se houver bastante neve e esta se encontrar compacta (como era o
caso em junho de 2017). Sendo assim, e depois de ter feito os trabalhos de casa
e de ter falado com guias locais, parti em solitário. O dia amanheceu bonito. Dos
100 metros de altitude da partida aos 1400 não há problemas. Depois entramos na
neve… Aos 1800 metros alcançamos um extenso plateau e é ali que as gretas são
mais problemáticas. Como tal há que contornar o problema mas, justamente ao
começar a caminhar no plateau, a ‘meteo’ brindou-me com um ‘white out’ total. Visibilidade que
chegou a ser de apenas um par de metros… Eu vinha da travessia da Groenlândia,
onde tinha navegado naquelas condições, utilizando a bússola, o sol, e até o
vento. E assim cheguei àquele cume traiçoeiro sem mais percalços.
- Na Finlândia (julho de
2017), o Halti-Haldi, ou Haltiatunturi (Halditsohkka em Sami), não constituiu
especial problema para além da distância (10 horas e 15 minutos desde o ponto
em que acampei, a 600 metros de altitude, e caminhada total de 38,5 km) que
percorri. Mas o facto é que esta montanha brindou-me, lá em cima, com um frio
cortante, de bastante respeitar.
- Já na Suécia, 5 dias
depois de ascender ao Halti, ao chegar à base do Kebnekaise deparei com
previsões de empioramento considerável do tempo pelo que, depois de 36 km em
bicicleta, resolvi na mesma jornada caminhar os 19 km até ao refúgio de
montanha e prosseguir com os 8 km mais até ao cume (e regresso à tenda montada
junto do refúgio). O facto é que o tempo se fechou a meio da subida. Mal se via
o cume e assim que cheguei lá ao topo, a visibilidade extinguiu-se por completo.
Desci a correr para não perder o ‘norte’, que neste caso ficava para sul, e
quando cheguei à parte de rocha, pelos 1800 metros, a chuva não me largou até
entrar na tenda. Foi uma jornada de 17 horas de duração e 71 km de distância, e
mais uma vez, cheguei a porto de abrigo encharcado que nem um pinto.
Para subir estes dois últimos
cumes viajei para Tromso e parti para a montanha em bicicleta. Entre uma e
outra distavam 500 km (mais 500 de regresso ao aeroporto de Tromso). Com a
chegada ao Kebnekaise, ficam para trás todos os cumes de mais de dois mil
metros do projeto ‘Europe’s highest summits’ ou ‘Cume mais alto de cada país da
Europa’ (na verdade, também a maioria dos cumes de entre mil e dois mil metros,
sendo que os pontos com menos de 900 metros de altitude já nem considero como de
uma montanha mas uma simples elevação e como tal não os vou perseguir).
Em conclusão: o cenário do
bom e do mau tempo nos ‘Cumes do Ártico’ passou a ser de uns 50-50%! Mas o meu (agora)
lema de viagem manteve-se: veni, vidi, subi!
O peso da carga: no aeroporto deixei a fita com que embalei a bicicleta; subi ao avião com uns 34 quilos de carga; no avião que me levou a Tromso deixei um livro...; na segunda montanha perdi o bidom de água (como que adivinhando que o ia rifar) e um gorro; nessa montanha abandonei as luvas de ski (encharcadas e mais pesadas) e no ponto de partida deixei as meias de montanha (molhadas e cheirosas); de caminho consumi toda a comida e suplementos que levara; de novo no aeroporto de Tromso deixei a bicicleta (recuperando alguns acessórios), e entrei no avião com não mais de 16 quilos...
Arctic summits – ‘Scandi Peaks 2017’
Veni, vidi, subi! (Arrived, looked, climbed!) It was like this with
every of the highest point of each of the Scandinavian countries (photos below).
‘Arctic summits’ refers only to the summit of
each Scandinavian country that is located close to the polar circle. In this
case, the Hvannadalshnúkur of Iceland (2.110 m), slightly south of polar circle,
and the Halti-Haldi of Finland (1.331 m) and the Kebnekaise of Sweden (2.111
m), both further north then the polar circle. We could consider other
Scandinavian countries like Denmark and Norway but their highest points (respectively,
Mollehoj of 170 meters, and Galdhoppigen of 2.469 m.) are located quite south
of the line of the midnight sun.
The fact that these summits (not too high) are
located in such northerly latitude gives them a certain degree of difficulty
due to the cold and weather instability.
If in my mountain climbs I could calculate an approximate
ratio of one bad weather summit for each three with good weather, now on the
Arctic Summits, the scenario changes considerably. Let’s see how:
- In Denmark (2017), the Mollehoj (Sjaelland
island), demanded a car ride of 580 km (go and back, from the Copenhagan airport),
and a two minutes walk on a sunny day, to a slight elevation midst a magic wood.
- On Norway (2011), the Galdhoppigen, 300 km NW
of Oslo, allowed me to get close during a great sunny morning, demanding a few
hours climbing. But, on the next day, while coming down from the Glitertint
(2.468 m, the second highest of the country, once the highest, as the ice cover
on the top was thicker and higher), on the other side of the valley, the mountain
offered me one of this persistent rains that let me wet as bird…
- On Iceland, the Hvannadalshnúkur (or ‘Kvana’)
generated some anxiety: the mountain, which the summit is the cone of an
extinct volcano, is surrounded by glaciers, and these are full of moving deep crevasses
– in the air still the tragic event of the two Germans that disappeared on them
in 2015. Of course there are routes safer than others. Especially if there is a
lot of snow and the snow is compact (this was the case in June 2017). After
having done my homework, and talking to local guides, I’ve started the climb solo.
Dawn was pretty nice. From the starting point at 100 meters high to 1.400 there
is no problems. Than we walk into the snow… At 1.800 meters we reach a plateau
where crevasses are a problem one has to surround. But it was just there that
the weather presented me a total white out… As I was coming from the Greenland
crossing, I had the experience of navigating using a compass, the sun, and even
the wind. And so I’ve reached that traitorous summit, with no further problems…
- In Finland (July 2017), the Halti-Haldi, or
Haltiatunturi (Halditsohkka in the Sami language), did not present special
problems besides the distance (10 hours 15 minutes from the starting point and
back to the tent, after 38,5 km) crossed. The fact is that the mountain
presented me, up there, with a respectable cutting wind.
- In Sweden, 5 days after climbing the finish
Halti, when arriving at the base of the Kebnekaise (after 36 km by bicycle and
19 km walking) the forecast predicted bad weather for the next days, so, I kept
going up on the same day – another 8 km, having then to return to my tent 8 km
down. The weather got worse half way to the summit. I could barely see the top
when I got close, and when I got there it closed definitely. I had to run down
not to lose the north (which was, in this case, the south) and when I got down
to the altitude of 1800 m the rain was pouring consistently and didn’t get off
me until I was inside my light and narrow tent. It was a 17 hours and 71 km
journey and, once again, I got to my shelter wet as a bird…
To climb these two summits Finland and
Sweden), I have traveled to Tromso and rided the bicycle up to the mountain:
500 km between the first and the second (plus another 500 km to get back to
Tromso). After Kebnekaise, I have finished all the mountains higher than 2.000
meters of the project ‘Europe’s highest summits’ (or the ‘highest mountain of
each country of Europe’, and also many of the lower – truth is any mountain smaller
than 900 meters is just a hill, so, I do not intend to pursue all of the small
ones).
The conclusion being that, the scenario for
the ‘Arctic summits’ changed for a 50-50% between summits with good and bad
weather! But, my new motto while travelling remained: veni, vidi, subi!
way to Haldi, highest of Finland, from the norwegian side
way to Haldi, highest of Finland, from the norwegian side
starting point to climb the Haldi, highest of Finland, on the norwegian side
highest of Finland summit
Norway, way to Finland
Norway, way to Finland
Norway, via Lapica (Lapland), way to Finland
Norge-Suomi border, on the 7th july 2017
camping as soon as I entered Finland, coming from Norway
Swedish-Finish border
Nikkaluokta, access to the Kebnekaise
Kebnekaise approach
Kebnekaise approach
Kebnekaise summit, 2.111 m
Kebnekaise, Sweden
Sweden: after Kebnekaise climb, on the way to norwegian border
somewhere in Norway
Senja island, Norway
Tromso
Tromso airport: goodbye 'Maria'
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