quarta-feira, 28 de abril de 2010

Fim do projecto Ice Care …

Em ‘Hora de responsabilidade …’ (post de 06.11.09) escrevi: «Nos dias conturbados em que vivemos, com os sucessivos escândalos económicos protagonizados pelos nossos politicos, vem a propósito um trecho do meu próximo livro. Não para apaziguar a revolta que sentimos, mas para mostrar que há muito que os desportistas estão num domínio muito superior ao dos politicos, no plano ético e moral (…): Philip Kerr explica como as pessoas terão desenvolvido uma atitude de resignação face aos escândalos sem fim, que se verificam no mundo da politica e dos negócios. Mas aceitar isso num desportista ou aventureiro, é outra coisa: “o desporto parece ser muito mais importante para as pessoas do que a politica, (…) cruza as fronteiras étnicas e partidárias. Ocupa um dominio superior, e torna-se muito mais decepcionante quando figuras do desporto revelam ser, afinal, como toda a gente”».

Vem isto a propósito do motivo do meu abandono do projecto Ice Care. Por vezes envolvemo-nos em iniciativas com pessoas que dissimulam os seus objectivos e se esquecem que a causa que ‘pretendem’ defender tem que ver com comportamentos e atitudes muito mais do que com o ego e proveitos pessoais, como a eficácia em realizar dinheiro, própria do estilo de gestão agressivo e irresponsável da época ‘pré-crise’.
Precisamente, o outro promotor da iniciativa, utilizando uma causa social nobre como fachada para obter proveitos pessoais, faltou à verdade desportiva divulgando dados incorrectos para obter “mais impacto” (nas suas palavras): os “15kg pendurados nas costas” (que não eram mais de 5kg) e as “12h por dia em cima de uma bicicleta” (que nunca chegou a tanto) na viagem Paris-Suiça; ou os 750 km que afirmava ir percorrer em bicicleta, quando na verdade eram 640, dos quais ele não percorreu os últimos 30 (fê-lo sentado num automóvel), e a sua recusa de caminhar um par de horas extra para chegar à lingua do glaciar Aletsch, cujo registo fora planeado, foram alguns deles…
Em carta aberta, agradecendo às pessoas e instituições envolvidas e lamentando a situação, tentei explicar o meu afastamento ...
«O acumular de motivos que me levam a pôr termo à colaboração neste projecto, fundamentalmente de ordem ética, graves a meu ver, vão da falta de verdade desportiva, às intenções de aproveitamento económico, por parte do promotor JM: (…) Não estive conforme com inúmeras outras atitudes, (…) como o permanente ‘esquecimento’ de me entregar parte do equipamento atribuido por marcas sponsor (inclusive na hora da partida para o Quénia); ou a referência (no site) a pessoas e entidades como ‘colaboradores’ do projecto, quando de facto nunca o foram (e das pessoas que o foram, todas com curricula muito valiosos, nenhuma voltou a participar!?!) … Realmente de lamentar foi a tentativa de se aferrar ao controle das várias áreas do projecto, a partir do momento em que conseguiu o primeiro apoio monetário; e a sua conduta com as questões de ordem económica, começando com a transferência do apoio monetário para a sua conta particular… Recordo ter-me dito que entrava neste projecto numa fase em que o seu empregador lhe devia e estava “mal de dinheiro”… Não sou contra essa forma de ganhar dinheiro, mas pretender fazer-se cobrar ‘por hora’ com o dinheiro dos patrocinios (mail no final) depois de apregoar públicamente o carácter ‘pro bono’ da inicitiva !?! e ainda vir fazer exigências para devolver o valor correspondente aos gastos com as viagens efectuadas !?! Recusei participar em tal esquema, pois o motivo pelo qual investi tantas horas na preparação dos programas prendia-se com a causa em si e com o desafio envolvido (nunca com compensações económicas).
O objectivo desta carta é simplesmente distanciar-me dos seus objectivos pessoais encobertos, e garantir que o meu nome não seja envolvido nas suas manipulações e polémicas de ordem económica, tão proliferas nos dias que correm». Escrevo desde há vários anos sobre desporto, natureza e ecologia, e não posso fazer o contrário daquilo que escrevo, ao contrário de outros que caem de pára-quedas ao ver uma oportunidade de negócio. Tire as suas conclusões … O projecto fica côxo e a sua credibilidade irremediavelmente comprometida.
Parece que gastei tempo, suor e dinheiro, a favor de uma pessoa de maus principios e com um ego maior do que a própria causa… mas sentir-me-ei compensado ao saber que aumentou o número de pessoas sensiveis à questão das alterações climáticas.
(Foto: glaciar Aletsch, tal como a moral, ‘na penumbra’)

1 comentário:

Amadeu disse...

Caro Zé,
O que contas é extremamente grave e devia ter mais visibilidade nos media Muito mais sabendo-se que está para breve o passo seguinte nesse projecto - A ida ao Peru já foi anunciada.
Como te conheço há muitos ano, não dúvido nem um pouco, da tua análise. Sempre te pautaste por te manteres íntegro e a tua abnegação às coisas materiais é por demais conhecida. Chega a ser extraterrestre a tua predilecção pela austeridade. Mas o tempo tem vindo a reconhecer-te, tal como os teu verdadeiros amigos. Abraço e melhoras rápidas.