O século XX, brindou-nos com ínumeros exemplos de mulheres que relizaram arrojadas viagens em solitário, sem os “50 baús, a banheira às costas e toda a sua equipa de carregadores”, que valeram apelidos como “ridiculas”, às aristocratas inglesas do passado: em 1932, Amelia Eahart (EUA) foi a primeira mulher a realizar um vôo transatlântico a solo; em 1952, Ann Davison (GB) realizou a primeira travessia do Atlântico em veleiro a solo; em 1970, Maureen Wheeler, com 22 anos, e o seu noivo Tony (26) percorreram a Ásia a bordo de um velho Mini, com um punhado de dólares no bolso e “muito sentido de aventura” para celebrar a sua ‘Lua de Mel’ - da Turquia à Austrália, passando por Irão, Afeganistão, Paquistão, India e Nepal, popularizaram a ‘hippie trail’; em 1975, a japonesa Junko Tabei, foi a primeira mulher no cume do Everest, depois de ter sido soterrada por uma avalancha e salva por sherpas que localizaram o seu tornozelo e o puxaram para a vida (foi também a primeira mulher a conseguir alcançar o cume dos ‘Seven Summits’).

Hoje, já ninguém se admira que uma mulher se lance à aventura em qualquer âmbito e que os seus êxitos sejam reconhecidos, mas ainda há mulheres que se aventuram com risco da própria vida, por causas humanitárias, de protecção de animais ou da saúde do planeta e cujos nomes mal se conhecem. O estatuto da mulher alterou-se completamente com o evoluir dos tempos. Ainda assim, os meios de comunicação destacam as mulheres aventureiras “desde o ponto de vista de que o logro conseguido tem mais mérito pela suposta fragilidade da mulher”. Cristina Morató (autora do livro ‘Viajeras intrépidas e aventureras’) corrobora afirmando que “ainda hoje continua a ser um mundo masculino, pelo que nos meios de comunicação não ocupamos o mesmo espaço que eles a não ser que sejas, além do mais, modelo e bonita como Araceli Segarra. Neste sentido avançámos pouco”. A espanhola Araceli é um caso mediático. Uma mulher multifacetada cujo perfil foi retratado da seguinte forma num número da ‘Vincci Magazine’: “Podia-se defini-la como escaladora, modelo, escritora, ilustradora ou conferencista, mas talvez a palavra ‘entusiasta’ seja a que melhor define o poliedro que as suas multiplas ocupações formam (…) Uma mulher que pode com qualquer desafio que se lhe ponha pela frente”. Antes de tudo Araceli é uma aventureira e se de algo se pode presumir é do seu amplo curriculum de montanhista. Aos 15 anos iniciou-se no mundo da espeleologia, aos 18 subiu acima dos 3.000 metros e aos 21 realizou a sua primeira expedição aos Himalaias. Na primavera de 1996 festejou os 26 anos no campo base da mítica Everest e, poucos dias depois, tornou-se na primeira espanhola a pisar o cume mais elevado da Terra. “As montanhas de cada um ensinam-te muitas coisas. Eu não quero subir as mais altas, mas sim as que são difíceis, aquelas que supõem um desafio para ti e implicam superação”, disse em entrevista. As outras facetas profissionais da sua vida enfrenta-as de modo idêntico: “No fundo é tudo o mesmo, mas com matizes diferentes, como as montanhas”. Araceli colabora com diversas revistas, participou em documentarios televisivos e no filme “Sete anos no Tibete”; realizou o best seller da National Geographic “Everest, mountain without mercy”. Nas suas conferências, utiliza a ‘montanha’ como metáfora de vida.
Em Portugal, alguns exemplos de viajantes e aventureiras foram destacados nos meus livros: as repórteres Maria Assunção Avillez e Ana Isabel Mineiro; a antropóloga Joana Roque de Pinho (viveu 2 anos com tribos Maasai, no Quénia); a montanhista Daniela Teixeira, 1ª portuguesa a 8 mil metros de altitude; a piloto Elisabete Jacinto, vencedora no rali Paris-Dakar; …

Fotos (1a, Lynn Hill; 2a, Elisabete Jacinto)
Livros: Carlos Pascual Gil “El viaje de Ejeria” (LAERTES, 1994); A. Arce “Itinerario de la Virgen Egeria (381-384)” (Editorial Biblioteca Autores Cristianos, 1996); Alexandra Lapierre/Christel Mouchard “ “Grandes Aventureiras 1850-1950”; Eric Le Nabour “As Grandes Aventureiras da História” (Javier Vergara Editor); Cristina Morató “Viajeras intrépidas y aventureras”, “As raínhas de África”, “As damas do Oriente” e “Cativa na Arábia” (Plaza & Janés SA); Robin Maxwell “Wild Irish”; José Tavares “Aventura ao Máximo – os novos exploradores lusos” (Europa-América, 2008) e “Os novos exploradores e a aventura dos sentidos”.
Sem comentários:
Enviar um comentário