De acordo com o documentário ‘Os rios e a vida - Yangtze’ (in, canal NG, 07.10.08), o sistema politico chinês exige "o sacrifício pessoal em nome de um bem maior". Isto significa: ‘sacrifica-se o povo e sacrifica-se a paisagem’ … Em 1998, as cheias do rio Yangtze alcançaram um recorde de 53 metros de altura, inundando uma área igual à da Nova Zelândia. Este facto obrigou à deslocação de 14 milhões de habitantes e originou custos de 30 mil milhões de dólares. Por outro lado, pressionou a decisão de construir a Barragem das Três Gargantas, com mais de 100 metros de altura e 2 km de largura, para domar as águas do Yangtze. A nova barragem, a maior alguma vez construida, vê-se do espaço e, como tal, é considerada ‘a segunda Muralha da China’. O projecto, que empregou 20.000 pessoas e custou 20 mil milhões USD, não deixa de ser controverso. A sua capacidade de controlar as águas é contestada, nomeadamente porque está construida sobre uma fenda geológica e porque, como assinalaram cientistas, o peso do reservatório pode provocar o efeito de um tremor de terra se a barragem ceder, o que originaria uma catástrofe com 75 milhões de habitantes em perigo. Em 2004 o nivel da água subio 50 metros a montante da barragem, provocando o desaparecimento da zona antiga da cidade de Vuhan. 1000 zonas arqueológicas foram também perdidas, bem como terras ricas para a agricultura e sustento de muitas familias.
A China está a ser urbanizada (em especial as novas cidades nas margens do Yantze) mais depressa do que qualquer outro país. O crescimento económico trazido pela barragem das 3 gargantas produz agora uma poluição descontrolada que está a destruir o rio (e os afluentes). O Yangtze absorve mais de 40% do lixo da China, enquanto 400 milhões de habitantes utilizam a sua água para beber. 70% das suas águas estarão inutilizadas em 5 anos. A contenção do lodo na barragem provoca problemas a jusante, nomeadamente no delta, uma das áreas mais densamente povoadas do globo - os pântanos encolhem, afectando o eco-sistema do rio e levando ao desaparecimento de espécies (o golfinho Banji foi considerado extinto). O Yantze está "encurralado num ciclo de crescimento" e a China pode estar a hipotecar o seu próprio futuro ao não poder sustentar aqueles niveis de crescimento …
(mais sobre o tema ‘crise’ nas crónicas 10, 13 e 14 de http://cronicasdozezinho.blogspot.com).
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