Nos dias conturbados em que vivemos, com os sucessivos escândalos económicos protagonizados pelos nossos politicos (alguns ex-), vem a propósito um trecho do meu próximo livro (já terminado e a aguardar publicação). Não para apaziguar a revolta que sentimos, mas para mostrar que há muito que os desportistas estão num domínio muito superior ao dos politicos, no plano ético e moral.
Em ‘Os novos Exploradores e a Aventura dos Sentidos’, escrevi: «O novelista inglês, Philip Kerr, autor do livro ‘The Book of Lies’, uma antologia de contos de falsidades, explica como as pessoas terão desenvolvido uma atitude de resignação face aos escândalos sem fim, que se verificam no mundo da politica e dos negócios (dos casos de inside trading aos de financiamento de campanhas partidárias, etc). Mas aceitar isso num desportista ou aventureiro, é outra coisa: “o desporto parece ser muito mais importante para as pessoas do que a politica (…) O desporto cruza as fronteiras étnicas e partidárias. Ocupa um dominio superior, e torna-se muito mais decepcionante quando figuras do desporto revelam ser, afinal, como toda a gente”. De acordo com esta análise parece estar o sociólogo australiano, John Barnes, autor do livro ‘A Pack of Lies’ - um estudo da história e sociologia da mentira. Diz ele que “o desporto implica um contraste com as considerações mundanas de trabalhar para ganhar a vida (…) Ser um desportista significa ser altruista.» …
Um amigo (que afinal eu não conheço assim tão bem) queixava-se que para fazer 5 milhões (possivel em Inglaterra mas não em Portigal, dizia) “não basta roubar, é preciso roubar muito” …. Questiono eu: mas porque é que se criou esta mania de que é preciso ter milhões para viver bem ?!? Lembro uma citação de ‘Viagens na minha Terra’ de Almeida Garrett (crónica de 19-07.09, em http://cronicasdozezinho.blogspot.com/): “E eu pergunto … se já calcularam o número de indíviduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, … para produzir um rico. (…) cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.”
Fernando Nobre, fundador da AMI, conta no seu livro ‘Viagens contra a indiferença’, a longa caminhada de mais de 25 anos da sua “saga humanitária” para combater o que considera “as duas piores doenças da Humanidade: a Indiferença e a Intolerância”. Ora, nesta altura, parece-me que ‘responsabilidade’, ou neste caso a falta dela, é outra das ‘doenças’ que mais afecta a nossa sociedade e caberia neste lote. Falta-nos ‘responsabilidade’ para lidar com os problemas das pessoas, os problemas do país e os do planeta. Neste momento discute-se o futuro do planeta (na preparação da cimeira de Copenhaga) e parece que não há sensibilidade nem coragem politica para tomar as medidas necessárias. Creio que só chega a ver este problema com clareza alguém que passe por uma destas combinações (dose de ironia): inteligência e sensibilidade; muito dinheiro e aborrecimento; educação (académica) e séria degradação das condições económicas (o meu caso). Pede-se responsabilidade e bom senso …
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