Trecho do capítulo ‘Desporto de intervenção’, de ‘Os novos Exploradores e a Aventura dos Sentidos’: “A primeira expedição Ice Care decorreu em Junho de 2009, entre Paris e o glaciar Aletsch, na Suiça. No dia 18, estacionei em Interlaken e, de bicicleta, pedalei 54km até Berna, onde dei uma entrevista ao Berner Zeitung antes de embarcar no TGV da tarde, rumo à capital francesa. Cinco horas depois e mais 9 km da Gare de Lyon ao hotel, na Boulevard de Grenelle, encontrei-me com o ZM. Eram 11 da noite. No dia seguinte, pedalámos por baixo da torre Eiffel e fomos dos campos Elísios ao museu do Louvre, até marcarem as 11 da manhã, hora combinada para reunir na sede da UNESCO. Passar a segurança apertada do edificio 7 da Praça Fontenoy não foi tarefa fácil. Um elemento mais zeloso, um russo com cara de Putin (não é pudim!), não queria deixar que estacionássemos as bicicletas dentro do recinto do edifício!? Niet! “Mas, temos as bicicletas carregadas de material, prontas para seguir viagem depois da reunião …”, exclamámos. Preparávamo-nos para entrar vestidos de calções de ciclismo e não tinhamos cadeados, porque isso significava peso extra. Após a chegada de uma assistente de direcção, de alguns contactos telefónicos mais e da espreitadela de um outro colega de função … Niet, niet !! A solução foi a estagiária, uma croata, vir cá fora e ficar de plantão às bibicletas durante a nossa reunião com o Director do Sector da Cultura, o Sr. Kishore Rao. Por ele tomámos conhecimento do fenómeno ‘black carbon’, apenas recentemente estudado: este, demonstra o efeito de aceleração do derretimento dos glaciares provocado pela deposição no gêlo de particulas de dióxido de carbono, libertado por queimadas e outras fontes de poluição próximas. Naquela tarde partimos em bicicleta para percorrer os 647 km que nos separavam de Lauterbrunnen. Devido às limitações de tempo, optámos por fazer rápidamente esta travessia, dando-nos alguma exigência física extra. Carregávamos cerca de 10 kg nas bicicletas de montanha, equipadas com pneus mistos (mais finos e velozes). Demorámos 5 dias e meio, com etapas de 90 a mais de 140 km diários. Nos primeiros dias as etapas mais longas e, na Suiça, as etapas mais curtas (Paris situa-se a uma altitude inferior a 100 metros e a fronteira, nas montanhas do Jura, fica a mais de 900). Nas duas primeiras noites dormimos ao relento, em camas cómodamente improvisadas em campos de trigo. Foram as melhores! Sem contar com o episódio em que o ZM acordou com uma lesma a arrastar-se na sua cara …. Com bom tempo, atravessámos as imensas planicies do centro de França (via Provins-Besançon), cobertas de canhâmo, papoila, trigo e vinha. Transportáva-mos a comida do dia e abasteciamo-nos en route para o dia seguinte. À hora das pausas para comer, o ZM tentava fazer o upload para actualizar os blogues. Eu procurava manter o ritmo e cumprir o plano, mas ainda assim tive que abandonar a ideia de percorrer algumas caminhos mais panorâmicos e secundários. No dia 27, com o título “Papoilas, cânhamo e champagne à Lagardère” deixei o seguinte apontamento no blog http://icecare.blogs.sapo.pt/: No final de uma subida suave, levantei-me do selim e olhei para trás. Um ponto côr de laranja em movimento destinguia-se com nitidez no fundo verde da paisagem. Era o Zé Maria com a sua camisola polar Trango. Ele entretinha-se com o seu iPod, tentando abstrair-se das dores num ombro e num joelho. Eu queria cumprir o plano da etapa. Ele queria fazer uploads no portátil dos filmes e fotos que fizemos. Ambos disfrutavamos das planícies a perder de vista, extensas plantações de papoila (vermelha e rosa), de cânhamo (!?!) e de vinhêdos de Champagne. Mas o melhor foram os campos de trigo que forneceram o acolchoado perfeito para as noites sossegadas nas camas improvisadas sob o céu de estrelas (... e de nuvens). Ao fim de dia e meio a pedalar, o GPS marcava 250 km acumulados (140 do segundo dia). O desnível acumulado (1300 metros) foi suave. Movemo-nos apenas entre os 80 e os 200 metros de altitude. Lá para o 5º dia temos que passar dos 300 aos 900 metros para passar as montanhas do Jura e entrar na Suiça !!!” … (continua ...)
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