Certa
vez escrevi sobre casas de banho em refúgios de montanha (ver livro ‘Horizonte
Branco’ - info em http://ze-tavares.blogspot.com).
Agora pretendo fazer uma análise semelhante mas relativa a aeroportos.
Munique:
aviões a chegar aos pares (dois aviões lado a lado em pistas paralelas); eleito
o melhor da Europa, não sei porquê, mas que tinha cafés, e cacau quente e chá e
jornais à borla, tinha!Já em comparação, os de Lisboa e Salónica (Thessaloniki) são dos poucos que abusam dos ‘caminhos de carneiros’ para conduzir as pessoas (postes ligados com fitas para obrigar a circular em zig-zag e condensar o espaço ocupado), provavelmente achando que é uma solução muito inteligente mas não se apercebendo que as pessoas se sentem como carneiros e, sobretudo as que têm dificuldades de locomoção, acabam por caminhar quilómetros para atingir o que está metros à frente. Por algum motivo os alemães não necessitam usar este sistema. Nem em Munique nem em Frankfurt – talvez o aeroporto mais movimentado da Europa, já que o tráfico de Londres se divide por, pelo menos, três aeroportos. Em Frankfurt vi nove luzes de aviões no ar, em fila, para se fazerem à pista de aterragem. Vi também ratos nas salas de espera… Sendo que os alemães não são nada ingénuos a esse respeito, reparei também que existiam umas caixas metálicas ao nível do solo muito apropriadas para os roedores se esconderem; e, como havia restos de comida pelo chão, calculei que esconderijos e ratos estavam ali de propósito; por outro lado, já as bancas de venda de sandes e comidas deixaram de me inspirar confiança – confiança, aliás, perdida assim que reparei nos preços… 500 paus (2,5eur) por uma bolacha de manteiga, daquelas grandes, com pepitas de chocolate!?! Livra!
Agora,
os Tugas sim que deixam marcas no melhor aeroporto da Europa (Munique, para
quem se esqueceu): não levam as canecas da Oktoberfest mas…
Incrível Macedónia:
A 2 minutos da partida para Skopje o motorista levanta-se, encara os 10 passageiros do autocarro de 39 lugares, adquire um ar grave, franzindo as sobrancelhas – pensamos que se vai apresentar e explicar o trajeto – e remata ameaçador: “Don’t eat in my bus…”. Ok, estamos prontos para partir!
Em Escópia (Skopje) não há uma única loja de qualquer cadeia internacional. O mesmo é dizer que estas não existem em todo o país. É difícil encontrar certos artigos (gás de camping) mas afinal a solução é fácil: eles vendem o conjunto completo, queimador e botija de gás, bastante barato e ‘made in Macedónia’. Apenas encontrei referências à Europcar e à Coca-cola…
Semanas
atrás subira talvez o mais técnico da coleção ‘O cume mais alto de cada país da
Europa’ (o Gerlach, na Eslováquia), e também o mais fácil de todos: o Kékestetö,
na Hungria, que o Nuno e eu rebatizámos de ‘Kékas’ e fica 1.014 metros de
altitude (na foto) mas apenas a 5 minutos a pé desde o local onde deixámos o carro
estacionado. Agora,
três cumes na última semana. Aliás, em 3 dias! Dois deles às ‘escuras’.
Não
levava mais que um mapa de estradas; acordei uma noite (dentro do carro) a
tiritar quando a temperatura se precipitou para os 5 graus; levei tareia de
granizo e vento no cimo do segundo pico mais alto da Macedónia; vi-me acossado
por cães-pastor em matilha; julguei-me desorientado nas entranhas das montanhas
Rudoka; por fim, às apalpadelas, encontrei-me no cume mais alto do Kosovo, na
fronteira – controlada por militares - com a Macedónia.
No
primeiro dia saí para analisar o terreno, sem ideia de fazer cume (tinha dado o
dia por perdido devido ao mau tempo - de noite e madrugada choveram ‘raios e
coriscos’. No entanto, as nuvens desafaziam-se ao chegar ao vale de Vardar,
embora os cumes permanecessem cobertos. Quando cheguei a meio do caminho o
tempo piorou (vento e chuva). Continuei. A 2/3 do caminho, ainda pior: granizo!
Mas aí não houve discussão com o cérebro sobre se prosseguir ou não… Por essa
altura já as pernas seguiam, sem dúvidas, o seu caminho para o cume, em modo
automático.
No
segundo dia o tempo melhorou, madruguei e em poucas horas cheguei ao cume mais
alto tanto da Macedónia como da Albânia – o Golem Korab (Macedónia) ou Korabit
(Albânia), admirando-me pela presteza dos polícias (é necessário anunciar-se
mas não existe qualquer burocracia) e pela audácia das pequenas serpentes
venenosas que se atrevem e atiçam no meio do caminho. Ao regressar ao ponto de
partida (Karaula, a 1470m), os outros 6 pretendentes acabados de iniciar a
marcha, o polícia disse-me: “3 hours 10? You are the fastest…”.
No
terceiro dia aventurei-me nas Rudoka mountains.
Um homem, em alemão, dissera-me que não fosse… lobos e tal… Não descobri o
caminho de terra, no meio da floresta, para as instalações militares. Dormi ali
mesmo. O tempo voltou a encobrir. Chuva de manhã. Quando, pelos 2 mil metros,
deixei para trás o bosque, ainda não sabia a que cume me dirigir. Então
encontrei umas marcas e segui-as. Depois deixei de vê-las. Passei o lago Crno
(lago negro) sobre o qual tinha lido referências. Continuei. Encontrei mais
marcas… Voltei a perdê-las quando já envolto pelas nuvens. Cheguei a uma crista
e segui-a para os dois lados até que num deles estava o marco kosovar, a 2.660m.
O altímetro confirmava – o ponto mais alto do Kosovo. Ao descer cruzei-me com
um grupo de 7 homens. Ao longe pensei serem militares. Escondi a máquina
fotográfica. Afinal eram uns maltrapilhos de mochila e enxada às costas, o primeiro
com farda militar (como se um guia). Rodeiam-me e penso “estou tramado”. Uns
continuam. O da mochila com uma corda pendurada diz-me que vão para o lago, disfrutar, que
o tempo encoberto vai mudar (tsss, que conversa! - penso). Diz que isto é tudo
albanês. Macedónio mas com habitantes albaneses, pergunto para retificar. Sim,
sim. Se estou sózinho, de onde sou, Cristiano Ronaldo e tal. Ok, bom caminho (despacho-os)! Percebo que vão a
salto para a Albânia mas, via Kosovo!? (claro, o outro passo fronteiriço, o do
Korab, está melhor vigiado e é mais difícil). Afinal o tempo só piorou. Gente estranha!
Quando
chego ao plano, antes da floresta, dois jipes, um deles militar (tinham que ser
os daquela gente), estão bem visíveis no terreno inclinado. O meu Fiat Uno,
‘abandonado’ no meio da floresta, está intacto. Sentimento de alívio após 35
minutos de condução nos caminhos enlameados e esburacados da floresta, onde
apenas circulavam jipes e camiões de transporte de troncos. Ao chegar ao vale
de Vardar, paro para uma sopinha quente e sou surpreendido pelo cântico dos
imans de três mesquitas em simultâneo, a chamar para a reza. Belo som para dar
por terminada a jornada.
São agora 92 os cumes alcançados — 11 deles entre 4 e 8 mil metros de altitude; 4 dos mais altos dos 7 continentes; 18 dos 20 mais altos (acima dos 2.500m) de cada país europeu; 23 vulcões; 142 dias investidos na montanha (fora aproximações que não a pé); um desnível direto total de 120 mil metros subidos...